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terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caruru de Cosme e Damião, tradição da Bahia?



“São Cosme mandou fazer


Uma camisinha azul


No dia da festa dele


São Cosme quer Caruru


“Cosme e Damião


Vêm comer teu Caruru


Que é de todo ano


Fazer Caruru pra tu”

Uma das melhores coisas que conheci em Salvador foi sem dúvida uma iguaria feita com quiabos: o caruru. Trata-se de uma instituição baiana que, de tão popular, virou sinônimo de um conjunto de comidas – vatapá, xinxin, arroz, farófia de dendê, abará e acarajé e um sem número de outros complementos, a depender da data e da ocasião. Costumava me refestelar com tais iguarias, um costume quase religioso às sextas-feiras. Lembro que da primeira fez que a comida foi feita em minha casa saí cedo para comprar o quiabos no antigo Hiper Paes Mendonça.

Para minha surpresa, uma mulher dócil e diligente ajudou-me na escolha – “tem que cortar a ponta meu filho, se partir fácil, é porque está bom”, me segredou dona Claudionor Teles Veloso, Dona Canô, a mãe de Caetano e Bethania. Nunca me esquecerei do sorriso daquela senhora, hoje com 104 anos, que me iniciou nessa importante empreitada, “porque quiabo duro não presta pra fazer caruru”.

Nesta terça-feira, 27 de setembro, Salvador se transforma num imenso caruruzal. Milhares de casas preparam essa iguaria e a oferecem a sete meninos, multiplicando as homenagens aos santos gêmeos Cosme e Damião e aos Ibejis com os quais os devotos católicos e de santos do Candomblé se desdobram em fazê-lo. Hoje, estou morando aqui na Chapada Diamantina – cartão postal do Brasil -, mas em minha Brotas de Macaúbas natal pouco se conhece de caruru muito menos de Ibejis. Fica na saudade de um dos melhores rangos que já provei em minha vida.

Traço cultural do povo baiano, o caruru não permeia, infelizmente, todas as regiões do estado.


ACTA E PASSIO
O caruru de Cosme e Damião está inserido nos cultos afro-brasileiros que celebram os santos gêmeos a 27 de setembro, um dia após os mesmos serem lembrados pela Igreja Católica . Os nomes originais dos santos eram Acta e Passio, originários da Síria e Armênia e que pregavam o cristianismo, "curando as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder". Passaram depois a ser conhecidos como Cosme (O Enfeitado) e Damião (O Popular). Foram perseguidos e mortos por Diocleciano (303), acabaram padroeiros de cirurgiões, físicos, farmacêuticos e faculdades de medicina em geral. Além de barbeiros e cabeleireiros.

Os santos Cosme e Damião no Brasil, além do caruru tão apreciado, uniram as nossas três culturas básicas, formadoras da nação brasileira: portuguesa, africana e indígena. A devoção nos foi trazida por colonizadores portugueses, mas os escravos que aqui vieram, todos da África Ocidental (Angola, Costa do Marfim, Guiné, Congo), mantiveram os rituais religiosos e a fé nos deuses de sua terra distante. Inclusive nos orixás-meninos (Ibejís). Mas aprenderam a sincretizar com os santos católicos, cujos cultos lhes eram impostos.

Na festa manda a tradição distribuir brinquedos e doces com a criançada; porque, segundo se acredita, só assim serão atendidos os pedidos feitos aos Santos. Em muitos lugares, especialmente na Bahia (Salvador e cidades ao seu entorno), a celebração se faz sobretudo com mesa farta, servindo-se pratos preparados com azeite (de dendê, claro), usado sobretudo em peixes, mariscos e vegetais, próprios para dias de abstinência e jejum. Entre eles abará, acarajé, bobó de camarão, efó, frigideiras, maxixadas, moquecas, vatapá, xinxim de galinha; e, principalmente, o Caruru. Reza a tradição que primeiro deve-se se servir a sete crianças (preferencialmente meninos) que o comem com as mãos, sentadas no chão.

O nome caruru vem de caá (folha) ruru (inchada), receita indígena feita originalmente apenas de ervas socadas com pimenta, no pilão. Os escravos africanos foram acrescentando novos ingredientes: amendoim, azeite de dendê, camarão seco, castanha de caju, cebola, gengibre, quiabo. E quanto mais quiabo tenha o caruru, mais importante é o prato. A receita foi depois levada de volta para África, em cada lugar recebendo nomes diferentes: calulu em Moçambique, Congo, Cabinda e São Tomé; funji de peixe, em Luanda; obbé em Nigéria e Daomé.



RECEITA DO CARURU

Ingredientes

2 kg de quiabo

5 cebolas

300 gr de camarão seco

250 gr de amendoim

250 gr de castanha de caju

1 colher de chá de gengibre ralado

1 xícara de azeite de dendê

Sal

Preparo

- Lave o quiabo, deixe escorrer e seque bem. Pique bem miúdo. Reserve.

- Passe as cebolas no processador. Reserve.

- Passe metade do camarão seco no processador. Reserve.

- Bata no liquidificador o amendoim e a castanha com meio copo de água. Reserve.

- Em uma panela coloque azeite de dendê. Refogue cebola e quiabo. Junte os camarões secos (os triturados e os inteiros). Depois, junte também gengibre, castanha e amendoim. Se necessário, coloque sal. Deixe no fogo, até engrossar.



Caruru de Cosme e Damião

Com texto e fotos da jornalista Agnes Mariano, deixo aos leitores mais um pouco da história dos santos gêmeos e do caruru nosso de todos os dias:

“A festa é caseira, mas farta. Todos os anos, no mês de setembro, ela acontece em milhares de lares baianos. Difícil imaginar uma mais sincrética. O “Caruru de São Cosme e São Damião” homenageia os santos gêmeos da igreja católica, os Ibêjis do candomblé e também as crianças. Tudo precisa ser feito no mesmo dia: caruru, xinxim de galinha, vatapá, arroz, milho branco, feijão fradinho, feijão preto, farofa, acarajé, abará, banana-da-terra frita e os roletes de cana. A dimensão da oferenda é medida pela quantidade de quiabos do caruru. Cada um faz como pode: mil, três mil ou até 10 mil quiabos. Quando a comida fica pronta, coloca-se uma pequena porção nas vasilhas de barro aos pés das imagens dos santos, ao lado das velas, balas e água. Depois, serve-se o caruru a sete meninos com, no máximo, 7 anos cada. Eles comem juntos, com as mãos, numa grande gamela de barro ou bacia. Só então é a vez dos convidados participarem da celebração.

A história da devoção a São Cosme e São Damião é antiga e atravessa continentes. Na Bahia, a fé nos santos irmãos ganhou importância principalmente pelo sincretismo com Ibeji, o orixá duplo dos nagôs, que representa os gêmeos. A mistura foi tão completa que ultrapassou a fronteira das religiões e classes: católicos e adeptos do candomblé, ricos e pobres oferecem a mesma comida sacrificial do candomblé às imagens dos santos cristãos. E mais, chega-se a fabricar imagens dos santos que incorporam uma terceira figura – Doú – uma corruptela de “idowu”, o nome dado, numa família nagô, àquele que nasce depois de um par de gêmeos. “Sempre tidos como muito traquinas, os idou deram origem ao ditado nagô: Exu lehin Ibeji – Exu vem depois dos Ibeji”, explica o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, em seu texto “Cosme e Damião no Brasil e na África”.

Quem assume a devoção aos santos e a obrigação de oferecer o caruru todos os anos, geralmente tem um bom motivo. Há 25 anos, no mês de setembro, Joselita Bulhões deu à luz a um dos seus filhos. Muitos moradores de Muritiba já estavam envolvidos com as festividades para os santos, que incluía caruru e foguetes. A criança, que tinha nascido com problemas respiratórios e peso excessivo – seis quilos -, por ter engolido o líquido da placenta, foi imediatamente para o médico. À noite, quando tinha retornado para casa, já à salvo da primeira dificuldade que enfrentou no mundo, o bebê novamente correu risco de vida. O vizinho da casa em frente resolveu soltar foguetes para homenagear os santos. O primeiro deles quebrou uma telha da casa de Joselita e caiu sobre o travesseiro onde o bebê dormia, a poucos centímetros do seu rosto. Interpretando esses acontecimentos como provas da intervenção dos santos irmãos, Joselita decidiu oferecer, todos os anos, o caruru em homenagem a eles. Hoje adulto, o seu filho, que também se tornou médico, como Cosme e Damião, faz questão de colaborar para manter a tradição.



Na família do Mestre Curió, da capoeira Angola, a tradição do caruru vem dos antepassados. “Começou com meu bisavô, passou pra meu avô e depois pra meu pai, que parou porque entrou para a lei de crente”. Além da vontade de prosseguir com a tradição familiar, Mestre Curió decidiu “tomar essa responsabilidade” por uma impressionante coincidência na sua vida: “Sou gêmeo, minha mulher é gêmea, tenho um casal de gêmeos e minha mãe era gêmea”. O caruru, que ele oferece em janeiro – mês do seu aniversário e do seu grupo de capoeira – acontece em três etapas. A primeira é na academia Mestre Pastinha, com três mil quiabos. A segunda, na academia dos Irmãos Gêmeos – para os sete meninos, alunos e convidados. E, depois, em sua própria casa.



Oferenda, sacrifício e obrigação

Os santos são católicos, mas a forma de homenageá-los é africana. Segundo o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, “os iorubás, em suas várias etnias, entendem o sacrifício, o ebó, como a forma essencial da sua comunicação com os orixás”. O caruru – dos Ibeji ou de São Cosme e São Damião “seria, então, mais do que uma oferenda, mas um sacrifício: o que na Bahia, o povo-de-santo chama de ‘obrigação’, que tem um preço e custa dinheiro. É como se desfazer de algo muito valioso”.

Joselita Bulhões conta que, nesses 25 anos, pensou algumas vezes que não fosse fazer o caruru, por causa de problemas financeiros, mas sempre conseguiu manter a promessa. “Pra mim, eles são santos vivos: o que você pedir, eles atendem. Uma vez, a situação estava tão difícil, que eu fiz uma prece bem forte. Na mesma hora, meu marido entrou. Tinha conseguido um dinheiro, nós mudamos de casa e eu fiz o caruru”, conta ela, que tem um pequeno oratório para os santos na lavanderia de sua casa. Hoje em dia, oferece anualmente um caruru completo e farto, com mais de dois mil quiabos escolhidos cuidadosamente na Feira de São Joaquim.

Nas últimas décadas, tem sido feita freqüentemente uma associação entre os santos católicos e os erês, que é um estado infantilizado do transe no candomblé. Por isso, inclui-se a distribuição de balas, doces e refrigerantes nas homenagens aos santos, especialmente no Rio de Janeiro. Mas são poucas as casas de candomblé que fazem obrigações para os Ibeji, geralmente discretas e não necessariamente em setembro. Outro detalhe é que não se tem notícias de filhos-de-santo de Ibeji na Bahia.



Coisas da Bahia

Todos os dias, antes das 6h, quando acontece a primeira missa na Igreja de São Cosme e São Damião, no bairro da Liberdade, já é possível encontrar pessoas na porta. Pequena, simples, mas visitada durante o ano inteiro, a igreja precisa conviver cotidianamente com o sincretismo que caracteriza a devoção a esses santos. “Só na Bahia existem essas imagens com Doú. Quando as pessoas trazem elas, nós explicamos que não podemos benzer e elas trocam as imagens”, explica o padre Ciro. Com muitos fiéis também em outros países, o padre lembra que existem igrejas para São Cosme e São Damião em Roma e no Rio de Janeiro, e que existe uma missa própria para eles na liturgia católica. O dia reservado para os santos é 27 de setembro.

Para os católicos, não há provas de que os santos fossem gêmeos. Conta-se que eles eram irmãos, nascidos na Arábia e filhos de uma viúva. Formados em medicina, na Síria, além das curas realizadas, pregavam o cristianismo. Por estarem convertendo muitas pessoas e também por trabalharem gratuitamente, foram perseguidos e condenados pelo tribunal de Lísias. Sofreram muitas torturas, às quais sobreviveram, até que, em 303, foram decapitados. “Eles são santos muito carismáticos, porque defendiam os humildes, curavam as doenças físicas, sem nunca terem cobrado um centavo. Curavam, também, as doenças da alma”, comenta o padre Ciro, explicando a legião de devotos que os santos conquistaram nos últimos séculos.

Vitalino dos Santos, 67 anos, que trabalha na Paróquia de São Cosme e São Damião desde 1957, já viu muitas formas de manifestação de fé. “As pessoas trazem velas para acender e imagens para ficar na igreja”. Para ele, seja no caso de São Cosme e São Damião ou qualquer outro santo, o mais importante é o exemplo que deixaram: “Os santos foram pessoas como nós, que enfrentaram muitas dificuldades, mas com força e coragem”.


Comida de sexta-feira

Seja por motivos religiosos, gustativos ou nutricionais, o caruru é um prato sempre presente na mesa baiana. Já é uma tradição: na sexta-feira, a maioria dos restaurantes da cidade inclui o prato no cardápio. Em setembro, por causa do caruru religioso, os comerciantes aproveitam para subir os preços dos produtos, porque têm a certeza de que as vendas irão aumentar.

Na Feira de São Joaquim, onde a maioria dos devotos se abastece, o preço do quiabo varia a cada dia de setembro. Segundo o feirante conhecido por Toinho, as vendas já foram bem melhores. “Agora todo mundo é crente, pouca gente dá caruru. Antes, numa rua qualquer, mais de 10 casas davam caruru”, afirma ele, sem negar que o aumento das vendas ainda acontece. “Se normalmente eu vendo quatro sacos por mês, em setembro, são oito ou 10 sacos de quiabo”, sintetiza o feirante José Paes. Sobre os preços, a feirante Maria Lúcia Falcão explica: “Ontem, o cento estava por R$2,00. Hoje está por R$1,50, porque entrou mais quiabo. Depois do dia 10, vai para R$2,50 ou R$3,00”.

Alguns usam só quiabo, cebola, sal, camarão e azeite de dendê. Outros acrescentam castanha, amendoim, pimentão e tomate. Segundo a nutricionista Joseni França, o caruru é mesmo um prato muito rico: “O quiabo tem muito ferro, mas um tipo de ferro que para ser melhor assimilado precisa ser combinado com fontes de vitamina C, como limão, tomate, pimentão. O dendê tem o betacaroteno, que o nosso corpo transforma em vitamina A, boa para a pele e para os olhos. Já com as castanhas e o amendoim, o prato ganha em proteínas e uma forma saudável de gordura”.



CURIOSIDADES

- Mas por que caruru para sete meninos? Segundo a peculiar tradição afro-luso-baiana, existiam sete irmãos: Cosme, Damião, Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi, conta Odorico Tavares, em seu livro “Bahia – Imagens da terra e do povo”.

- A fertilidade das iorubás, que tem inclusive motivado pesquisas médicas, provavelmente é um dos motivos da importância dos santos e orixás irmãos. A Nigéria, inclusive, é o país com o maior índice de nascimento de gêmeos no mundo inteiro.

- No modo africano de homenagear os Ibeji e também outros orixás, o pedido de esmola para a preparação da comida é um ponto fundamental. A mesma tradição já existiu na Bahia, mas foi abandonada pela maioria das pessoas. Entretanto, ainda é possível encontrar quem mantenha esse costume, inclusive fora da Bahia.

- Existem várias recomendações para quem faz o caruru, que cada um escolhe obedecer ou adaptar. Quem oferece o caruru deve cortar o primeiro quiabo e, depois de pronto, colocar a comida aos pés dos santos em vasilhas novas e fazer um pedido. A galinha do xinxim não pode ser comprada morta. Durante a festa não deve ser servida bebida alcoólica. E quem encontrar no prato um quiabo inteiro deve oferecer um caruru no próximo ano.

Sugestões de leitura

LIMA, Vivaldo da Costa. Cosme e Damião: o culto aos santos gêmeos no Brasil e na África. Salvador: Corrupio, 2005.


____. Oferendas e sacrifícios: uma abordagem antropológica. In: FORMIGLI, Ana Lúcia (Org). Parque Metropolitano de Pirajá: história, natureza e


cultura. Salvador: Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu/Editora do Parque, 1998, p. 57-65.


TAVARES, Odorico. Bahia: imagens da terra e do povo. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951.

sábado, 24 de setembro de 2011

A maxixada do juiz


Transformada em conto, essa história é real e me foi contada pelo amigo Aldivan Fernandes e aconteceu lá pras bandas da sua Lagoa de dentro Natal


Marciana, mulher determinada, tirava o próprio sustento numa pequena propriedade – uma rocinha, lá atrás do morro -, próximo à Lagoa de Dentro onde morava desde o nascimento, lá se vão 70 anos. Da sua casa, na parte alta do lugarejo, bem pertinho da igreja da polêmica - de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Polêmica, porque construída por negros descendentes de escravos acabou se transformando no centro de uma briga, uma vez que as famílias de pele branca queriam se apossar da capela e da imagem vinda do estrangeiro. Mas os tempos são outros e outra capela, agora para a Rainha, também Nossa Senhora, fora construída de modo a atender um racismo inexplicável à luz da religião.

Marciana era devota de Maria, batizada que fora na tal igrejinha dos pretos, apesar da pela clara, corpo miúdo. O excesso de peso lhe dava a impressão de estar enfiada a força no vestido bem composto, abaixo do joelho. A lida na casa, onde cozinhava, fazia café, limpava e deixava tudo em ordem, não a impedia de fazer sua plantação de milho, feijão, melancia e maxixe no tempo das águas – entre outubro e março - quando a chuva quebrava a rotina de sol a pino nos cafundós do sertão de Palmeiral, onde a Lagoa de Dentro se localizava.

Naquele ano de fartura, milho e feijão jogavam cabriola na rocinha da Marciana, que era visitada por ela religiosamente todos os dias para capinar, plantar, cuidar e colher os frutos da terra tão pródiga. Na tarde daquela sexta-feira ela esperava colher os primeiros maxixes que se transformariam numa belíssima maxixada, o almoço do sábado. Abraçada a uma cesta de vime lá se foi cantarolando até a plantação onde uma surpresa desagradável a aguardava. Em meios aos maxixes, alguém teve a ousadia de fazer um serviço esquisito, grande e fedorento, que fez a Marciana num rompante sair de volta pra casa com muita raiva e nojo.

- Uncuncuncun, só pode ter sido obra do Zezão.

Disse, referindo-se a Zé de Alvino, antigo desafeto com quem costumava bater boca sempre por algum motivo, seja lá política e até futebol, já que era fanática pelo “glorioso” Botafogo Futebol e Regatas e ele pelo Flamengo.

Marciana estava revoltada em ver seu maxixal ser transformado numa latrina. Era desaforo que ela não admitiria de forma alguma. Se queixaria ao bispo da Barra, se preciso fosse.

- No tempo do padre Carrilho isso não aconteceria!

Gritou para a vizinha, dona Maroca, referindo-se ao legendário pároco, nos dias de hoje nome da principal rua de Palmeiral. Marciana esqueceu o terço, as esmolas do Divino - da qual era das mais entusiasmadas participantes quando o imperador e a bandeira chegavam à Lagoa de Dentro trazendo um mundaréu de devotos -, e xingava o Zezão de tudo quando era nome. Foi quando a Maroca a informou que o juiz da Comarca, Dr. Antônio Rodrigues Barbosa, encontrava-se no lugarejo em visita a Dolores e Pio, casal mais abastado das redondezas. Só deu tempo de jogar uma água no corpo, botar o vestido de bolinha azul, presente da comadre Dozinha, calçar o sapato de missa e jogar o xale na cabeça.

Marciana seguiu determinada a dar parte ao juiz e exigir uma punição para Zé de Alvino. No solar de Pio e Dolores, Dr. Antônio descansava na sala principal degustando um licor de jenipapo com lascas de requeijão, isso após se refestelar com galinha caipira ao molho pardo e uma maxixada, como ele, dizia, “inesquecível obra prima” de sua anfitriã.

Foi com a lembrança na maxixada do almoço que o juiz recebeu Marciana e a sua queixa.

- Doutor, só Deus sabe com que dificuldade me dirijo a Vossa Excelência. É que eu tenho uma rocinha, lá atrás do morro, onde planto uma verdurinhas... E qual não foi a minha desventura hoje quando ao tentar colher uns maxixes para a maxixada sagrada do sábado, me deparei com um tolete de bosta sem tamanho, obra do José de Alvino.

- Traga o meliante à minha presença.

O juiz intimou a vinda do Zezão e mandou o sobrinho dos donos da casa – Aldivan - ir buscá-lo, ele que naquela hora estava tranqüilo em casa fumando o cigarrão de palha de todos os dias. O chamado da autoridade era uma ordem. Ele apagou a contragosto o cigarro, meteu a camisa nas calças, enfiou as alpercatas nos pés e seguiu para ver o que o senhor doutor queria com ele.

- Como o senhor teve a coragem de defecar...

- Defecar o que meu doutor?

- Como o senhor teve a coragem de cagar nas verduras dessa pobre velhinha?

Puxando o nariz, que era virado pro lado esquerdo, e que coçava muito quando ficava nervoso, Zezão assegurou ao juiz que não havia sido ele o autor de tamanha desfaçatez. Do outro lado da sala, Marciana interrompeu-o e gritou em alto em bom tom para todo mundo ouvir, já que a sala estava repleta de curiosos.

- Foi ele doutor, foi ele sim. Eu conheço a rosca!

Depois da “balada” recebida do juiz que prometeu mandar prendê-lo se repetisse a façanha no maxixal da Marciana, o Zezão ficou três meses só bebendo, em casa, morto de vergonha de todo mundo.

A UFBA ABDICOU DE PENSAR


Jornalista Waldomiro Júnior denuncia resistência ao nome de Milton Santos para o Instituto de Geociêcias
Por Waldomiro Júnior * (A TARDE)

Dez anos após a sua morte, Milton Santos ainda enfrenta resistência na Ufba. Professores não querem dar seu nome a um auditório no Instituto de Geociência, sob a alegação absurda de que ele não teria sido professor da universidade. Não vamos perder tempo citando o currículo que o credenciou intemacionahnente como um dos principais pensadores do século XX.
Nem lembrar sua atuação como docente da Ufba (se alguém da própria universidade desconhece esses fatos, estamos diante de PhDs em ignorância acadêmica). Também não vamos nos referir à possibilidade de racismo ou inveja da notoriedade mundial conquistada por um negro. 0 centro dessa “inusitada” resistência é o combate sem tréguas de Milton contra a universidade que não pensa.
A Ufba já esteve entre as mais avançadas universidades latinas. Dos seus quadros saíram governadores, ministros, secretários de Estado, mas também as principais propostas para o desenvolvimento da Bahia e outras que influenciaram os destinos do País. Hoje, quem é o nosso Rômulo de Almeida? Quem é o nosso Orlando Gomes? Quem é o nosso Milton Santos? No que a Ufba tem contribuído para a solução dos nossos problemas? Que referência tem no plano nacional?
Temos uma universidade que abdicou de pensar, voltada para dentro, perdida nos confrontos pelo domínio de guetos, na disputa surda e insana por um poder abstrato, que em nada contribui para o conhecimento científico e, muito menos, para a sociedade. É a briga primitiva pelo território, não o território coletivo, agente de transformações, analisado na obra de Milton, mas o território individual da vaidade, o status obtido pelo cargo e não pelo saber.
Em Pernambuco, a universidade faz do conhecimento instrumento a serviço da sociedade. Resultado: há cinco anos os pernambucanos crescem o dobro da Bahia. E lá, políticos não precisam convocar a universidade. Ela se faz presente, porque o seu ofício é discutir, pensar e propor soluções. Aqui a nossa universidade está mais para o carreirismo acadêmico, aquele modelo que Milton tão corajosamente combateu.

* Waldomiro Júnior é Jornalista.
Artigo publicado no Jornal "A Tarde" da Bahia e no http://www.politicalivre.com.br/index.php/2011/09/a-ufba-abdicou-de-pensar/

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Brotas de Macaúbas finaliza Parque Eólico

                                                                                              
 

Primeiro empreendimento desse tipo de geração de energia da Bahia começa a funcionar em novembro


O primeiro parque eólico da Bahia, instalado no município de Brotas de Macaúbas, Chapada Diamantina, entra em operação no final do mês de novembro. A estrutura principal já está montada e resta apenas a conclusão da subestação, que vai levar a energia produzida à rede de distribuição nacional, para que os aerogeradores comecem a funcionar. Cada um dos 57 cata-ventos gigantes que formam o parque tem 80 metros de altura. Eles vão aproveitar a força dos ventos e produzir eletricidade suficiente para abastecer uma cidade maior que Vitória da Conquista.
No local onde está instalado o parque, no alto da Serra da Mangabeira, o vento tem velocidade média de 25 quilômetros por hora. O engenheiro responsável pela obra, Eduardo Bottacin, afirmou que para começar a produzir energia elétrica o aerogerador precisa de vento a partir de 11 quilômetros por hora. “O potencial de geração aqui é de 90 megawatts. Esta é uma das melhores áreas do estado, porque tem potencial suficiente para produção de energia”.
Com a entrada em operação do seu primeiro parque eólico, o estado se prepara para instalar outros 51. No país, a Bahia lidera o número de projetos neste setor. A previsão é que 18 novos empreendimentos entrem em operação até o final de 2012 e formem o principal polo eólico do Brasil. Além dos parques, o estado começa a receber fábricas de torres e aerogeradores. A Gamesa, empresa espanhola especializada na construção de turbinas geradoras, já inaugurou uma unidade em Camaçari, e a francesa Alston inaugura outra até o final deste ano.
Responsável pela relação entre os empresários e o governo estadual, o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, disse que a instalação de uma fábrica dessa é uma decisão meramente empresarial. Segundo ele, as empresas estão se instalando aqui porque a Bahia tem o maior potencial para esse tipo de energia hoje no Brasil e tem atuado para apoiar as iniciativas.





MAIS OFERTA DE ENERGIA

Os novos projetos vão aumentar a oferta de energia elétrica na Bahia, garantindo fornecimento suficiente para o crescimento econômico. Além disso, a energia eólica é considerada uma das mais limpas – não gera impacto, como inundações, fumaça ou resíduos.
Para o biólogo Márcio Zanotto, o principal impasse durante a instalação é a construção da estrada até o local. Durante a operação, o risco é o choque de aves migratórias com a parte móvel dos aerogeradores. “Vamos monitorar durante os primeiros anos, e, caso aconteça, existem soluções viáveis para evitar esse choque”.
                                                                                                                            Fotos de Alberto Coutinho/SECOM




ESTRUTURA GRANDIOSA

A estrutura do primeiro parque eólico da Bahia é grandiosa. As torres têm a altura equivalente a 18 andares e quando giram as pás do cata-vento chegam a quase 30, equivalente a 120 metros de altura. Elas podem ser vistas a uma distância de 90 quilômetros por quem passa pela BR-242, na altura de Brotas de Macaúbas.
Para quem mora nas comunidades próximas ao parque, além da admiração, a chegada das torres trouxe os ventos da oportunidade. Os projetos geram muitos empregos durante a fase de construção e 600 operários da região foram contratados.
Hélio Oliveira, encarregado de obras, mora a 15 minutos do canteiro, no distrito de Sumidouro. Para trabalhar ali, ele desistiu dos planos de procurar emprego em São Paulo, empreitada que já repetiu três vezes, desde os 17 anos. Hoje, aos 34, acredita que tomou a melhor decisão. “Sou encarregado e estou usando o dinheiro para construir minha casa e ficar de vez em Sumidouro com minha mulher e o filho que estamos esperando”.

Com informações da Secom – Secretaria de Comunicação do governo da Bahia

sábado, 17 de setembro de 2011

Emoção marca 40 anos da morte de Zequinha e Lamarca



Prefeito Litercílio Júnior comanda ato político na Praça Matriz de Brotas de Macaúbas e resgata trajetória dos líderes revolucionários

Com a presença do primeiro ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos (governo Lula), Nilmário Miranda e do secretário estadual de Cultura, Albino Rubin (representando o governador Jaques Wagner), um ato público na Praça Matriz em Brotas de Macaúbas celebrou neste sábado (17) os 40 anos da morte dos líderes revolucionários Carlos Lamarca e José Campos Barreto, o Zequinha. A solenidade foi marcada pela emoção quando o prefeito Litercílio Júnior fez a chamada - nome a nome - dos mortos pela repressão militar em Brotas (Santa Bárbara, Otoniel e Zequinha Barreto, além de Lamarca). A cada nome pronunciado, as na praça respondiam “presente”.
Neste sábado e também no domingo (18), a população da região e pessoas vindas de diversas partes do país, participam do 3º Fórum de Direito à Memória e Verdade, além da 11ª Celebração aos Mátires, marcada pela sábado à tarde, na localidade de Pintada, onde Zequinha e Lamarca foram mortos. Haverá ainda, no domingo, ato político em Buriti Cristalino, onde morreram Otoniel Campos Barreto e o professor Santa Bárbara e Noite Cultural, em Brotas.

Leovan foi o grande vencedor do concurso de redação

ESTUDANTES SÃO PREMIADOS

Durante a solenidade foram premiados os alunos das escolas municipais e estaduais que participaram do concurso de redação, instituído pelo município. No ensino fundamental, a grande vencedora foi Tânia Oliveira Araújo, da Escola Luiz Eduardo Magalhães, no Cocal, ficando em segundo e terceiro lugares os alunos Rosana Mendes dos Santos (Escola Agostinho Ribeiro), de Feira Nova e Marina Rodrigues de Oliveira, da Escola Papa João Paulo I, em Brotas.
No ensino médio, o primeiro colocado foi Leovan de Oliveira Bastos. Tatiana Oliveira Lopes e Márcia Nunes dos Santos, ficaram, respectivamente, com o segundo e terceiros lugares; Todos estudantes do Colégio Estadual Papa João Paulo I. Os premiados receberam netbooks, máquinas digitais e celulares. O prefeito Júnior destacou a importância do concurso dentro da luta em busca da restauração da verdade dos acontecimentos acontecidos em 1971.

                                             Ex-ministro dos Diretos Humanos, Nilmário Miranda

IMPORTÂNCIA DO RESGATE

Nilmário Miranda falou sobre a importância desse resgate dos nomes de Lamarca e Zequinha e de todos aqueles que lutaram pela democracia no Brasil, pagando com a vida por esse gesto de amor à pátria. Disse que esteve em Brotas de Macaúbas em 1996, como membro da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos em diligência para o reconhecimento da responsabilidade do Estado pelas mortes.
Para ele, “Lamarca e Zequinha foram reconhecidos como vítimas em 1996. Em 2007 a Comissão de Anistia declarou Lamarca anistiado político e o promoveu a coronel post mortem concedendo pensão à viúva Maria Pavan e indenizou os filhos César e Cláudia forçados ainda crianças ao exílio em Cuba”. Em seu blog, Nilmário explica que “uma juíza federal suspendeu o pagamento da pensão e das indenizações sob a alegação de que Lamarca foi um "desertor", tese já julgada e desmontada pelo STJ há 12 anos”.

    O povo na praça responde "presente" à chamada dos nomes dos revolucionários mortos em 1971

Em foto de arquivo, Olderico na Pintada: 17 de setembro, dia muito difícil para a família Campos Barreto
A FALA DE OLDERICO

No pronunciamento mais forte do ato, Olderico Campos Barreto – irmão de Zequinha e Otoniel, mortos pelos militares, e ele próprio ferido na invasão da casa de seu pai, José Campos Barreto, no Buriti Cristalino, lembrou os anos de chumbo da ditadura militar e o resgate que hoje é feito para devolver a dignidade àqueles que deram a sua vida pela redemocratização do país. Ele contou que morou 17 anos em São Paulo e que resolveu voltar a Brotas na busca de oferecer alternativas aos jovens, que “não precisam sair da nossa terra para tentar a sorte em São Paulo”. Chamou a atenção dos governantes para a necessidade de “mais ações do governo para fixar os jovens aqui em nossa terra”.
Olderico falou que “o dia de hoje é um dia muito difícil para todos nós da família Campos Barreto”. Lembrou a pressão militar sobre o povo que foi preparado como num quartel para que fosse alguém da região que matasse Lamarca e Zequinha. “Graças a Deus eles não encontraram aqui esse bode espiatório”, assegurou
Os eventos em memória dos líderes revolucionários estão sendo desenvolvidos pelo Instituto Zequinha Barreto em conjunto com a Diocese da Barra e as prefeituras de Brotas de Macaúbas e Ipupiara, com apoio do governo estadual.
Também participaram do ato político, o representante do Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos de São Paulo, Francisco Oliveira Prado; o presidente estadual do PT, Jonas Paulo, os deputados estauais Yulo Oiticica e Neusa Cadore e o federal Amauri, além da primeira dama de Brotas, Eliene Ferro, o prefeito de Morpará, Silley Novais; de ex-companheiros de Zequinha e Lamarca, como Manoel Dias Nascimento e Roque Aprecido da Silva, vereadores locais e representantes de municípios vizinhos.

MAIS IMAGENS DOS 40 ANOS SEM ZEQUINHA E LAMARCA


Com fotos de Alberto Coutinho, fotógrafo da Secom-BA, as celebrações em Brotas de Macaúbas e na Pintada pelos 40 anos da morte de Carlos Lamarca e José Campos Barreto. O evento mobilizou o ex-ministro Nilmário Miranda, o secretário estadual de Cultura, Albino Rubim e o bispo da Diocese da Barra, Dom frei Luis Cappio, além do prefeito de Brotas de Macaúbas, Litercílio Nunes, deputados estaduais e federal, o presidente do Instituto Zequinha Barreto, Roque Aparecido e o irmão de Zequinha, Olderico Campos Barreto.
As celebrações aconteceram no dia 17 em Brotas de Macaúbas (pela manhã) e na Pintada (à tarde), localidade do vizinho município de Ipupiara onde os líderes revolucionários tombaram mortos em 1971. No domingo, igual celebração em Buriti Cristalino, terra natal da família Campos Barreto, onde – em agosto do mesmo ano – morreram Otoniel Barreto e o professor Santa Bárbara. A noite cultural em Brotas de Macaúbas, que encerraria o evento, acabou sendo cancelada.




O bispo da Barra Dom frei Luis Cappio comandou a "Celebrações pelos Mártires" na Pintada em Memorial que ele constroi na Pintada, onde o povo visitou o local da morte de Zequinha e Lamarca
O ato político em Brotas de Macaúbas reuniu políticos e ex-guerrilheiros e premiou os autores das melhores radações sobre Lamarca e Zequinha: Leovan Oliveira Bastos e Tânia Oliveira Araújo

REAÇÃO DOS MORADORES DE BROTAS DE MACAÚBAS

Em colaboração a este blog, a professora aposentata e escritora Alzira Ribeiro do Espírito Santo, que vivenciou o tempo da perseguição e morte dos líderes revolucionários José Campos Barreto, Zequinha, e Carlos Lamarca enviou o seguinte texto, onde discorda de declarações feitas em praça pública durante as celebrações pelos 40 anos de morte dos dois: 
"Eu Alzira Ribeiro do Espírito Santo e muitos brotenses ouvimos estarrecidos o pronunciamento de Olderico Campos Barreto denegrindo os "inteligentes da cidade" e os "ignorantes do interior" do município, afirmando que a população de Brotas "foi treinada como se estivesse num quartel" para matar os guerrilheiros e que muitas dessas pessoas teriam amolado facas e facões na porta de igreja Matriz no intuito de acabar com a vida de Zequinha e Lamarca, colaborando assim com os militares das três armas que aqui integraram a Operação Pajuçara no ano de 1971. Repudio tais declarações porque não conferem com a verdade. A população - em sua grande maioria - sequer sabia do que se tratava e estava com medo. Também quero assegurar ser falsa a informação de que o senhor Genésio Nunes - carcereiro da delegacia pública na época e que hoje repousa na mansão dos mortos e não pode se defender, mas nós moradores desta cidade, testemunhas vivas daqueles episódios terriveis, sabemos que o mesmo nunca fez festa em sua residência para comemorar a morte de ninguém. Com certeza está sendo usado como bode espiatório para o arrepio da verdade e a incredulidade de todos os brotenses. Enfim, aproveita-se a oportunidade para criar estórias fantasiosas, deformando a verdade, não sabendo nós com qual finalidade. Lamento a história de Brotas de Macaúbas estar caminhando em tal direção".

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Lembrados os 40 anos da morte de Zequinha e Lamarca


Fim de semana vai movimentar Brotas de Macaúbas, Buriti Cristalino e a Pintada

Com manifestações previstas para a Pintada, dia 17, Buriti Cristalino e Brotas de Macaúbas, dia 18, os 40 anos da morte do capitão Carlos Lamarca e de José Campos Barreto serão lembrados com atos públicos, missa e noite cultural, além de apresentação de filme. Trata-se de eventos desenvolvidos pelo Instituto Zequinha Barreto em conjunto com a Diocese da Barra e as prefeituras de Brotas de Macaúbas e Ipupiara, com apio do governo estadual.
A programação dos dias 17 e 18 de setembro próximo será intensa, como informa Roque Aparecido da Silva, sociólogo ultimamente trabalhando em Salvador e companheiro de Zequinha na famosa greve dos metalúrgicos de Osasco, em 1968. Ele informou que para o principal ato público, em Brotas de Macaúbas, no dia 17, está prevista a presença da ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, além de várias outras autoridades, bem como de representantes de movimentos sociais e entidades vinculadas à luta pelos direitos humanos. Está incluída na programação uma homenagem ao geógrafo baiano Milton Santos, que morreu há dez anos e que é filho do município de Brotas.


PROGRAMAÇÃO

Dia 17 (sábado)

10h – Ato público em Brotas de Macaúbas

12h30 – Almoço

13h30 – Deslocamento para a Pintada

14h30 – Ato em Pintada e visita às obras do Santuário dos Mártires

19h30 – Exibição do filme do Buriti a Pintada, de Reizinho Pereira dos Santos

Dia 18 (domingo)

10h – Momento Celebrativo em Buriti Cristalino

12h – Almoço16h30 – Momento Celebrativo na Pintada

19h30 – Noite Cultural em Brotas de Macaúbas



Família de Lamarca lembra execução

Assinado pela família de Carlos Lamarca - Maria Pavan Lamarca, Cesar Pavan Lamarca e Claudia Pavan Lamarca - texto é um testemunho visceral da saga de um homem que entrou para a História do Brasil. Veja:
"Tudo que já se escreveu sobre Carlos Lamarca permite a reflexão de um momento da História do Brasil. Não há dúvidas de que sua atitude, decisão e sacrifício foram refletidos em gerações que ainda, pouco ou nada sabem sobre este brasileiro.
Em 11 de setembro de 2011 um canal brasileiro de televisão mostrará ao Brasil, ao povo brasileiro, 10 anos do acontecimento em New York, quando as torres do World Trade Center foram atingidas por duas aeronaves de grande porte, que resultou na morte de inúmeras pessoas.
Em 17 de setembro de 2011, farão 40 anos da execução sumária de Carlos Lamarca, nenhuma reportagem será levada ao conhecimento do povo brasileiro.
É de conhecimento geral que foi executado por forças federais brasileiras, por muito tempo fora forjada a “idéia” de que, apesar de sua condição física, esta constatada após a execução, que ele teria oferecido resistência impar as forças federais brasileiras, a verdade dos fatos, não lhe foi possível oferecer nenhum tipo de reação dada a sua condição física a aquele momento.
Seu corpo fora violado após a morte, sobre seu cadáver ocorreram atos abomináveis ao ser humano e a conduta de honra entre militares, seu transporte foi da mesma forma quando uma caça é abatida, até sua chegada ao IML de Salvador – Estado da Bahia – BA.
Foi exposto ao olhar de curiosos, de personalidades políticas e militares como um troféu e somente, após a chegada de alguns parentes vindo do Rio de Janeiro, e, a pedido de um deles, que foi cessada aquela peregrinação. Seu corpo foi reconhecido por parentes, enterrado em cova comum no cemitério da cidade de Salvador, e somente em 1973 foi possível o traslado para a cidade do Rio de Janeiro por seus parentes e sepultado no cemitério do Caju.
Tudo isto ocorreu longe de sua companheira e seus filhos, pois residiam em Havana – Cuba e somente regressariam após a “abertura política” no Brasil em 1979. Cumpriram exílio durante 10 anos seguidos.
São 40 anos de sua execução. A família Lamarca resgatou de forma silenciosa a cidadania brasileira, pois se encontrava em terra estrangeira, se mantém sob orientação de Maria Pavan Lamarca, hoje com 74 anos de idade e sua convicção é de que, ainda há muito a ser feito em memória de seu companheiro.
Contrariando orientações e seguindo a sua determinação pessoal foi a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, e com muito afinco e determinação prova que, a farsa forjada na Operação Pajussara era frágil demais para ser mantida, com ajuda do Deputado Federal Nilmário Miranda, do Partido dos Trabalhadores exumou os restos mortais de seu companheiro e no IML de Brasília o Legista Médico, Nelson Massini prova a execução de seu companheiro.
A Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos e a imprensa recebem de um repórter do Jornal O Globo, um material comprometedor as forças federais brasileiras, material este “escondido” dentro de um cofre, em uma “sala esquecida” na Polícia Federal em São Paulo, onde lá foram encontradas sete pastas que mostram um dossiê completo e fotografias de Carlos Lamarca e que serviram de base para contribuir com a suspeita de execução em contribuição com as observações profissionais do médico legista.
Não houve dúvidas para a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Carlos Lamarca fora executado sumariamente, lhe fora interrompida a vida, lhe fora privado o direito a rendição, a prisão, ao julgamento, a pena e possivelmente a anistia política e restituição dos direitos, inclusive a promoção militar, pois lhe interromperam a vida, assim como ocorreu com muitos outros.
A Carlos Lamarca lhe foi alienado o direito a vida. A sua companheira vai a Comissão de Anistia requerer o que também, o Poder Judiciário atual não reconhece em benefício de seu companheiro, em benefício do resgate do direito constituído, o direito a anistia política.
Seus representantes judiciais lutam até a presente data, de tribunal em tribunal, de recurso em recurso, de agravos em agravos para derrubar uma liminar sustentada pelo Clube Militar do Rio de Janeiro, como um troféu contra a anistia de Carlos Lamarca. Os representantes judiciais de Maria Pavan Lamarca lutam a 24 anos seguidos pelos reparos devidos a família Lamarca.
São 40 anos da execução de um homem que entregou sua vida pela luta democrática, optou pela luta armada, pois quem se impôs no poder pela violência deveria ser removido da mesma forma, pelas armas.
Nós da família Lamarca lamentamos que, após 40 anos da execução de Carlos Lamarca sua condição seja a mesma, não se deseja medalhas e honrarias e sim o que a lei permite dentro do estado de direito.
Carlos Lamarca, ainda, e possivelmente seja o único brasileiro não anistiado pela própria Lei de Anistia, pelo Poder Judiciário e pela própria União, independente de governos e suas políticas.
Nós da família Lamarca olhamos para o nosso querido marido e pai, em uniforme militar com uma brilhante carreira pela frente e o recebemos e suas últimas fotografias quase como um mendigo, isso não passa de uma vergonha para este País, principalmente para aqueles que se pautam como soberanos da esquerda brasileira.
Não resta dúvidas que esquecer, ignorar, fugir as responsabilidades tem sido uma constante, pois não há mais ideais a serem alcançados, não resta mais nada que, simplesmente aceitar o tempo como bandagem a uma sangria desenfreada de ignorância aos fatos da História do Brasil, nós não somos parte desta hipocrisia e que, de pouco ou nada servirão estas palavras escritas, mas não restam dúvidas de que, a consciência de cada um é seu próprio juiz no final da jornada, e esse julgamento que o tempo prega é como aquela tormenta que chega de vez para que, talvez, possamos refletir dos atos do passado e presente.
A família Lamarca nunca se rendeu, nunca sucumbiu, mas sem nenhum tipo de fobia sabe que são “os novos perseguidos políticos do Brasil”, pois é a partir da transferência de ódios do passado e pendências que, personagens da política brasileira que abominam a democracia, mas se servem dela, se aproveitam de suas condições como parlamentares para atacar aqueles que restaram do sacrifício pela Nação. Quando três clubes militares se unem contra uma brasileira, de 74 anos de idade para lhe suprimir um direito inalienável, o direito de anistia de seu próprio companheiro, é porque chegamos ao caos silencioso e a ignorância de fatos amparados na alienação do poder judiciário de alguns magistrados, onde permitem o dolo a uma família, em particular a uma senhora de 74 anos de idade e compactuar com o passado de desrespeito aos direitos constituídos.
Sua companheira recebeu a missão de seu companheiro de educar seus filhos, cuidar deles, ela está até hoje entrincheirada, sem armas, mas consciente de um dever eterno a ser cumprido, preservar seus filhos e agora seus netos.
Não nascemos para mendigar direitos, nascemos para vencer, somos uma família unida e temos preservado o nome de Carlos Lamarca como compromisso aos ideais e respeito a sua memória.
Um homem morre, suas idéias são eternas.
Ousar Lutar, Ousar Vencer".
Com informações dos blogs http://vidaspelavida.blogspot.com
e http://ousarlutar.blogspot.com

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dom Luiz Cappio condena a corrupção no país


Bispo da Diocese da Barra aproveita missa em Brotas de Macaúbas e denuncia o abandono das obras de transposição do Rio São Francisco

O bispo da Diocese da Barra, Dom frei Luiz Flávio Cappio, denunciou neste 7 de setembro o abandono das obras de transposição do Rio São Francisco onde, segundo disse, já foram gastos “bilhões e bilhões de reais, dinheiro que daria para comprar uma casa para cada um dos brasileiros sem moradia”. Disse também que a obra está hoje abandonada e que os canais estão rachando sob o sol inclemente do sertão nordestino, longe de resolver o problema da seca na região. A declaração foi feita durante a homilia na missa de encerramento da Novena de Nossa Senhora de Brotas, Padroeira da cidade de Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina.

Dom Cappio, lembrou a sua luta em defesa do Velho Chico e da greve de fome em protesto contra o projeto de transposição do rio, denunciando ainda a corrupção no Brasil como o grande mal da nação brasileira. Ele disse que as futuras gerações, assim como as atuais condenam a escravidão, hão de cobrar o grande mal que é a corrupção hoje institucionalizada no país. Assegurou que os governantes estão se locupletando com o dinheiro que deveria servir para resolver os grandes problemas dos brasileiros, a exemplo da fome e da miséria. Falando pausadamente para uma igreja repleta de fiéis, o líder da Igreja Católica na região condenou a omissão como incentivador da corrupção nos altos escalões do governo.

Dom Luís Cappio está em Brotas de Macaúbas para as comemorações da festa da padroeira, Nossa Senhora de Brotas. Nesta quinta-feira, dia 8, ele vai celebrar a missa solene da festa ao lado do padre frei Moisés, pároco da cidade.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Pastoral da Juventude apoia Cia Teatrando



Moção de Solidariedade da PJ de Barreiras denuncia proibição “arbitrária” às manifestações culturais naquela cidade

Continua repercutindo nas regiões Oeste, Médio São Francisco e Chapada Diamantina a proibição da Cia Teatrando para apresentações em locais públicos na cidade de Barreiras. O ator e produtor cultural da Teatrando, Ramon Sousa, destaca a Moção de Solidariedade da Pastoral da Juventude – PJ de Barreiras, demonstrando, como ele diz, “o compromisso com a Juventude, a Democracia e as Causas Sociais. A exemplo de Cristo, vocês se mostram fieis a justiça social e a liberdade de expressão”, destaca

A Moção da Juventude foi enviada ao nosso blog pelo ator, diretor teatral Júlio Delfino e tem o seguinte teor: “Nós da Pastoral da Juventude de Barreiras, em reunião ordinária no dia 21 de agosto de 2011, manifestamos nossa solidariedade a CIA TEATRANDO que exerce sua cidadania através de manifestação artística/cultural em nossa cidade. A referida CIA TEATRANDO foi proibida por membros da gestão pública municipal de utilizar os espaços públicos para qualquer atividade cultural e apresentação de espetáculos”.

A moção assegura ainda que “por ocasião da II Conferência Municipal de Políticas Públicas de Juventude foi exaltada através de discursos a importância da participação da juventude na cultura e na arte. Como também foram formuladas propostas sobre arte e cultura e aprovadas na referida conferência. Solicitamos que, em respeito às propostas apresentadas na II Conferência seja levada em conta a participação dos jovens em espaços públicos municipais para exercerem seu direito de expressão através da arte e da cultura”.

Diz ainda que “em sintonia com a Campanha Nacional Contra a Violência e o Extermínio de Jovens repudiamos todo ato autoritário, humilhante e antidemocrático. Somos pessoas de paz e contra qualquer ato de violência que inferioriza, humilha e exclua os jovens. Somos a favor de uma realidade de VIDA, de respeito mútuo e de transformação social”. E conclui, pedindo “democracia e transparência na gestão pública de Barreiras. Chega de violência contra os artistas! Chega de violência e extermínio de jovens”!