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domingo, 20 de novembro de 2011

As Bondosas em cartaz em Barreiras


Três inusitadas carpideiras - Angústia, Astúcia e Prudência, enquanto velam uma defunta - não só trocam alfinetadas umas com as outras, como também fazem hilariantes acusações a finada e aos seus familiares e condolentes

A Cia. Teatrando, de Barreiras, apresenta, nos dias 25 e 26 deste e 2 e 3 de dezembro, no Auditório Unyhana, em Barreiras, o espetáculo As Bondosas. A comédia é do dramaturgo cearense Ueliton Rocon e tem direção de Ruth Guimarães. A montagem traz à cena três hilariantes personagens femininas que resgatam a figura das carpideiras, mulheres que se dedicam ao ofício de velar os defuntos, com suas rezas, benditos e louvores.

O texto retrata um inusitado velório, onde essas mulheres provocam gargalhadas enquanto destilam venenos, com suas fofocas relacionadas aos familiares e condolentes presentes. Elas não se cansam de alfinetar, umas as outras, numa disputa incessante de qual delas é a mais pura, a mais indicada para tão desafiante ofício.

Contradizendo ao clima esperado em qualquer funeral, em As Bondosas, o público como co-participante dessa inusitada farsa, encontrará um ambiente bem humorado, cheio de interessantes e alegres surpresas.

DA MONTAGEM

A Cia. Teatrando, acreditando que o ser humano é o único animal que tem consciência do seu riso e da sua alegria, investe mais uma vez na Comédia.

Dessa vez, os seis participantes da referida Cia., formando dois elencos distintos, não só contemplam a participação de todos os integrantes no mesmo espetáculo, como também experimentam a possibilidade de aprender com a atuação do outro, que vive seu mesmo personagem. Assim sendo, o público terá a oportunidade de assistir a cada dia o mesmo espetáculo, mas com atuações diferenciadas.


FICHA TÉCNICA


Texto - Ueliton Rocon

Direção - Ruth Guimarães

Consultoria Cênica - Sérgio Vianna

Cenotécnico - Sérgio Vianna

Figurinos - Ruth Guimarães

Adereços - Dolores Gomes

Maquiagem - Cia. Teatrando

Elenco - Cleide Vieira, Clessia Rilen, Jéssica Oliveira, Lanna Seixas, Lucélia Gomes e Ramon Sousa

Produção Executiva - Cia. Teatrando

Classificação - 14 anos

Contatos - (77) 8101 5943/ 9814 6701/ 9111 5548

DA CIA. TEATRANDO

Criada há cinco anos, em Barreiras- BA, composta por um ator e cinco atrizes - com dedicação exclusiva na difícil tarefa do fazer teatral - está numa constante busca do aprofundamento dos elementos teóricos e práticos, participando, sempre que possível, de cursos, seminários e festivais.

No ano de 2 008, a atriz e diretora Ruth Guimarães assume a direção, montando os seguintes espetáculos: Em Nome de Deus, adaptação do clássico, O Santo Inquérito, de Dias Gomes; o Auto de Natal, O Boi e o Burro, uma adaptação do texto de Maria Clara Machado; o Infantil, Uni-Du-Ni-Tê, de Ramon Sousa e Ruth Guimarães e a comédia romântica, Casar ou Não Casar, Eis a QuestãO.

Tais espetáculos circularam em algumas cidades da região oeste da Bahia, além de duas importantes capitais como, Brasília-DF, no Espaço Cultural Renato Russo - 508 Sul, da Secretaria de Educação do Distrito Federal e em Salvador-BA, no Teatro Vila Velha.

A Cia. Teatrando também desenvolve trabalhos temáticos para instituições públicas e privadas, abordando os mais variados temas, elaborando projetos e montando peças e performances para espaços convencionais e Teatro de Rua.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Teatro celebra Bodas de Ouro do Padre João


Auto de Nossa Senhora conta a história de Brotas a partir do milagre da vaquinha com elementos da cultura popular



O Grupo Cultural Cayam-Bola apresenta no dia 3 de dezembro, nas comemorações dos 50 anos (Bodas de Ouro) de ordenação sacerdotal do padre João Cristiano, o Auto de Nossa Senhora de Brotas. Trata-se de dramatização, com recursos de teatro, canto e dança, contando a origem da cidade a partir do Milagre de Nossa Senhora no Boqueirão. A peça teatral utiliza-se dos mais diferentes recursos cênicos para mostrar fatos determinantes da história, da cultura e do folclore brotenses.

O Auto de Nossa Senhora de Brotas contará com a participação de 16 atores mostrando a miscigenação do nosso povo através da mistura de raças: dos índios nativos aos brancos portugueses colonizadores e os negros trazidos para o trabalho escravo. No elenco, dois remanescentes dos antigos cantadores de Reis - Marcos Roberto, bisneto de Lalu e Catarina e Rafael Novaes, sobrinho tetraneto de Zé Raimundo.

O texto, assinado pelo poeta, escritor e jornalista Rosalvo Martins Júnior, filho da terra, mostra que “foi da junção dos povos indígena, negro e português que surgiu a alma brotense”. De Lalu, a montagem relembra Catarina, a grande dançarina do Reis, imortalizada na canção “Catarina Balaio de Fulô”. De Zé Raimundo, a mulinha do Bumba Meu Boi abre a história de forma lúdica e animada.

O Grupo Cultural Cayam-Bola é integrado por Francisco Barbosa (Chicão), Rafael Novaes, Marcos Roberto, Tchica Sodré, Ivone Alcântara, Késia Hellen, Dayane Barbosa, Milena Sodré, Maria Paula, Amanda Campos, José Sebastião, Alekênia Barbosa e Marcos Manchinha e defende o desenvolvimento da cultura de nossa cidade e a integração da juventude brotense. A montagem do Auto tem o patrocínio da Pousada Vovó Terezinha, do empresário Edilson Campos e conta com importantes apoios - da Prefeitura Municipal, Dilton Aécio, Miguel Ribeiro, bloco Psiu Psiu (Deodato Alcântara Filho) e Flávia Ferro.





Ensaios acontecem no Cras



Os ensaios do Auto de Nossa Senhora de Brotas acontecem regularmente na sede do Cras, Praça Dr. João Borges. Trata-se de uma criação coletiva, com orientação, supervisão e direção do próprio autor. Na montagem são utilizados alguns instrumentos do reisado e adereços que lembram momentos da história de Brotas, com representações da Festa do Divino.

A história parte da lenda que retrata o milagre da santa que fez descobrir a bezerrinha perdida no Boqueirão, local que é o marco zero de Brotas. A água pura e cristalina que ali jorrava servia para o abastecimento de toda população, desde os primórdios até o século passado, nos anos 80. À encenação do milagre integra-se algumas manifestações culturais, com a utilização do Hino de Brotas (composição da professora Cotinha Meira Lima) e do Hino a Nossa Senhora.

O elenco está afiado. Os três jograis contam a história e um deles abre o espetáculo falando dos 50 anos de sacerdócio do padre João Cristiano. Em seguida apresentam as cenas do milagre e a aparição do Anjo à Virgem Maria. No meio da história, o Diabo aparece tentando estragar tudo, num momento de suspense e bom humor.



Os registros fotográficos desta reportagem foram feitos pelo pesquisador Tiago Mendes, paulista que está em Brotas desde o início do ano realizado estudos sobre o município.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dirigir bêbado agora é crime

Motorista embriagado está sujeito a prisão mesmo se não tiver causado danos e não oferecer riscos

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado votou e aprovou nesta quarta-feira (9), sem a necessidade de ir a plenário, um projeto de lei que torna mais rigoroso o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e proíbe que os motoristas dirijam com qualquer quantidade de álcool no sangue. Antes, no dia 3, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o ato de dirigir com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a seis decigramas é crime, com possível detenção, mesmo que o autor não cause danos ou provoque risco a outras pessoas.

MAIS PUNIÇÃO

Juristas paulistas querem aproveitar a revisão do Código Penal para tornar mais rigorosa a punição para quem dirige embriagado e mata no trânsito. Dois dos 16 convidados para integrar a comissão de reforma da legislação, que será instituída nesta terça-feira no Senado Federal, a procuradora Luiza Nagib Eluf e o professor de Direito Penal Luiz Flávio Gomes defendem pena mais dura para motoristas bêbados até quando não há acidente.

"No Código de Trânsito, dirigir embriagado já leva a punição. Mas, em caso de acidente que provoque lesão corporal ou morte, a pena tem de ser mais severa do que a prevista para crime culposo (quando não há intenção). É isso o que a sociedade espera de nós da Comissão de Reforma Penal. A população quer que o Código a proteja da irresponsabilidade, da bandidagem, da violência", diz Luiza.

DESPESAS COM PENSÕES

A Procuradoria-Geral Federal já ajuizou na Justiça Federal a primeira ação regressiva de trânsito contra um motorista acusado de provocar um grave acidente, em abril de 2008, no Distrito Federal. O acidente deixou cinco mortos e três feridos. A ação visa ao ressarcimento à Previdência Social de despesas decorrentes de pensão por morte, provocada por direção perigosa e alcoolismo. De acordo com o boletim de ocorrência policial, quando provocou o acidente, o motorista estava bêbado e dirigia na contramão, em zigue-zague.

O ministro da Previdência, Garibaldi Alves Filho, e o presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Mauro Rauschild, foram juntos à Justiça Federal protocolar a ação. Garibaldi disse que, com ações como essa, os motoristas infratores "vão pensar duas vezes antes de dirigir embriagados ou de provocar rachas [corridas] no trânsito".

sábado, 22 de outubro de 2011

Teatro na luta contra a fome


Companhia encena A Chegada de Lampião no Céu e no Inferno em palco de Ibotirama
A peça teatral A chegada de lampião no Céu e no Inferno, adaptada da obra do cordelista José Pacheco, volta aos palcos na cidade de Ibotirama pela Cia de Teatro Mistura, desta vez como parte da campanha “Natal sem fome”. Belíssima iniciativa que o grande diretor teatral Júlio Delfino nos envia para divulgação em nosso blog. Por apenas R$1 + um quilo de alimento não perecível será possível ver a apresentação marcada para a próxima quarta-feira, dia 26, às 19h, no Auditório do Cetep Velho Chico.

A Companhia é integrada por nove atores, além do diretor e assistentes de palco e de direção, contando com o apoio do Ponto de Cultura Tarrafa Cultural, local onde o grupo se reúne para ensaio e produção dos espetáculos. Nessa montagem o grupo traz uma comédia que conta um pouco da historia de Lampião.

Com um texto de José Pacheco e Rodolfo Coelho, adaptado por Marcílio Oliveira, A Chegada de Lampião no Céu e no Inferno traz o debate de Lampião com São Pedro e Lampião no Purgatório, onde as origens da literatura ressurgem com personalidade, prometendo fazer o público se envolver e dar boas risadas.

A peça tem direção de Gilberto Morais, coreografia de Jurandy Myranda e sonoplastia de Julio Delfino.

Veja um pouco do texto original do cordelista José Pacheco:

Um cabra de Lampião
por nome Pilão Deitado
que morreu numa trincheira
um certo tempo passado
agora pelo sertão
anda correndo visão
fazendo malassombrado.


E foi quem trouxe a notícia
que viu Lampião chegar
o inferno nesse dia
faltou pouco pra virar
incendiou-se o mercado
morreu tanto cão queimado
que faz pena até contar

Vamos tratar na chegada
quando Lampião bateu
um moleque ainda moço
no portão apareceu:
Quem é você, cavalheiro?
Moleque, eu sou cangaceiro:
Lampião lhe respondeu.

- Moleque não, sou vigia
não sou seu pareceiro
e você aqui não entra
sem dizer quem é o primeiro:
- Moleque, abra o portão
saiba que sou Lampião
assombro do mundo inteiro.

Vigia disse assim:
fique fora que eu entro
vou conversar com o chefe
no gabinete do centro
por certo ele não lhe quer
mas conforme o que disser
eu levo o senhor pra dentro.


Lampião disse: vá logo
quem conversa perde hora
vá depressa e volte já
eu quero pouca demora
se não me derem ingresso
eu viro tudo asavesso
toco fogo e vou embora.


O vigia foi e disse
e satanás no salão:
saiba a vossa senhoria
que aí chegou Lampião
dizendo que quer entrar
e eu vim lhe perguntar
se dou-lhe ingresso ou não.

- Não senhor, satanás disse
vá dizer que vá embora
só me chega gente ruim
eu ando muito caipora!
eu já estou com vontade
de botar mais da metade
dos que tem aqui pra fora.


- Lampião é um bandido
ladrão da honestidade
só vem desmoralizar
a nossa propriedade
e eu não vou procurar
sarna pra me coçar
sem haver necessidade.


Leve cem dúzias de negros
entre homem e mulher
vá lá na loja de ferragem
tire as armas que quiser
é bom avisar também
pra vir os negros que tem
mais compadre de Lucifer


E reuniu-se a negrada
primeiro chegou Fuchico
com o bacamarte velho
gritando por Cão de Bico
que trouxesse o Pau de Prensa
e fosse chamar Tangença
em casa de Maçarico.

E saiu a tropa armada

em direção do terreiro
com faca, pistola e facão
cravinote e granadeiro
uma negra também vinha
com a trempe da cozinha
e o pau de bater tempero.


Quando Lampião deu fé
da tropa negra encostada
disse: só na Abissínia
oh! tropa preta danada!
o chefe do batalhão
gritou de arma na mão;
- Toca-lhe fogo, negrada!


Nessa voz ouviu-se tiros
que só pipoca no caco
Lampião pulava tanto
que parecia um macaco
tinha um negro neste meio
que durante o tiroteio
brigou tomando tabaco.


Acabou-se o tiroteio
por falta de munição
mas o cacête batia
negro rolava no chão
pau e pedra que achavam
era o que as mãos pegavam
sacudiam em Lampião.

Lucifer mais satanás
vieram olhar do terraço
todos contra Lampião
de cacête, faca e braço
o comandante no grito
dizia: briga bonito
negrada, chega-lhe o aço!


Lampião pôde apanhar
uma caveira de boi
sacudiu na testa dum
ele só fez dizer: oi!...
Ainda correu dez braças
e caiu enchedo as calças
mas eu não sei dizer o que foi.

Lampião pegou um seixo
rebolou-o num cão
mos o que; arrebentou
a vidraça do oitão
saiu fogo azulado
incendiou o mercado
e o armazém de algodão.


Satanás com esse incêndio
tocou no búzio chamando
correram todos os negros
que se achavam brigando
Lampião pegou a olhar
não vendo com quem brigar
também foi se retirando.


Houve grande prejuízo
no inferno nesse dia
queimou-se todo dinheiro
que satanás possuia
queimou-se o livro de pontos
perdeu-se vinte mil contos
somente em mercadoria.


Reclamava Lucifer:
horror mais não precisa
os anos ruins de safra
agora mais esta pisa
se não houver bom inverno
tão cedo aqui no inferno
ninguém compra uma camisa.


Leitores, vou terminar
tratando de Lampião
muito embora que não possa
vou dar a explicação
no inferno não ficou
no céu também não entrou
por certo está no sertão.


Lampião foi no inferno
E depois no céu chegou
São Pedro estava na porta
Lampião então falou:
- Meu velho não tenha medo
Me diga quem é São Pedro
E logo o rifle puxou

São Pedro desconfiado
Perguntou ao valentão
Quem é você meu amigo
Que anda com este rojão?
Virgulino respondeu:
- Se não sabe quem sou eu
Vou dizer: sou Lampião.


São Pedro se estremeceu
Quase que perdeu o tino
Sabendo que Lampião
Era um terrível assassino
Respondeu balbuciando
O senhor... está... falando...
Com... São Pedro... Virgulino!


Faça o favor abra esta porta
Quero falar com o senhor
Um momento meu amigo
Disse o santo faz favor
Esperar aqui um pouquinho
Para olhar o pergaminho
Que é ordem do Criador


Se você amou o próximo
De todo o seu coração
O seu nome está escrito
No livro da salvação
Porém se foi um tirano
Meu amigo não lhe engano
Por aqui não fica não


Lampião disse está bem
Procure que quero ver
Se acaso não tem aí
O meu nome pode crer
Quero saber o motivo
Pois não sou filho adotivo
Pra que fizeram-me nascer?


São Pedro criou coragem
E falou pra Lampião
Tenha calma cavalheiro
Seu nome não está aqui não
Lampião disse é impossível
É uma coisa que acho incrível
Ter perdido a salvação


São Pedro disse está bem
Acho melhor dar um fora
Lampião disse meu santo
Só saio daqui agora
Quando ver o meu padrinho
Padre Cícero meu filhinho
Esteve aqui mas foi embora


Então eu quero falar
Com a Santa Mãe das Dores
Disse o santo ela não pode
Vir aqui ver seus clamores
Pois ela está resolvendo
Com o filho intercedendo
Em favor dos pecadores


Então eu quero falar
Com Jesus crucificado
Disse São Pedro um momento
Que eu vou dar o seu recado
Com pouco o santo chegou
Com doze santos escoltado


São Longuinho e São Miguel,
São Jorge, São Simão
São Lucas, São Rafael,
São Luiz, São Julião,
Santo Antônio e São Tomé,
São João e São José
Conduziram Lampião


Chegando no gabinete
Do glorioso Jesus
Lampião foi escoltado
Disse o Varão da Cruz
Quem és tu filho perdido
Não estás arrependido
Mesmo no Reino da Luz?


Disse o bravo Virgulino
Senhor não fui culpado
Me tornei um cangaceiro
Porque me vi obrigado
Assassinaram meu pai
Minha mãe quase que vai
Inclusive eu coitado


Os seus pecados são tantos
Que nada posso fazer
Alma desta natureza
Aqui não pode viver
Pois dentro do Paraíso
É o reinado do riso
Onde só existe prazer


Então Jesus nesse instante
Ordenou São Julião
Mais São Miguel e São Lucas
Que levassem Lampião
Pra ele ver a harmonia
Nisto a Virgem Maria
Aparece no salão


Aglomerada de anjos
Todos cantando louvores
Lampião disse: meu Deus
Perdoai os meus horrores
Dos meus crimes tão cruéis
Arrependeu-se através
Da Virgem seus esplendores


Os anjos cantarolavam
saudando a Virgem e o Rei
Dizendo: no céu no céu
Com minha mãe estarei
Tudo ali maravilhou-se
Lampião ajoelhou-se
Dizendo: Senhora eu sei


Que não sou merecedor
De viver aqui agora
Julião, Miguel e Lucas
Disseram vamos embora
Ver os demais apartamentos
Lampião neste momento
Olhou pra Nossa Senhora


E disse: Ó Mãe Amantíssima
Dá-me a minha salvação
Chegou nisto o maioral
Com catinga de alcatrão
Dizendo não pode ser
Agora só quero ver
Se é salvo Lampião


Respondeu a Virgem Santa
Maria Imaculada
Já falaste com meu Filho?
Vamos não negues nada
– Já ó Mãe Amantíssima
Senhora Gloriosíssima
Sou uma alma condenada


Disse a Virgem mãe suprema
Vai-te pra lá Ferrabrás
A alma que eu pôr a mão
Tu com ela nada faz
Arrenegado da Cruz
Na presença de Jesus
Tu não vences, Satanás


Vamos meu filho vamos
Sei que fostes desordeiro
Perdeste de Deus a fé
Te fazendo cangaceiro
Mas já que tu viste a luz
Na presença de Jesus
Serás puro e verdadeiro


Foi Lampião novamente
Pelos santos escoltado
Na presença de Jesus
Foi Lampião colocado
Acompanhou por detrás
O tal cão de Ferrabrás
De Lúcifer enviado


Formou-se logo o júri
Ferrabrás o acusador
Lá no Santo Tribunal
Fez papel de promotor
Jesus fazendo o jurado
Foi a Virgem o advogado
Pelo seu divino amor


Levantou-se o promotor
E acusou demonstrando
Os crimes de Lampião
O réu somente escutando
Ouvindo nada dizia
A Santa Virgem Maria
Começou advogando


Lampião de fato foi
Bárbaro, cruel, assassino
Mas os crimes praticados
Por seu coração ferino
Escrito no seu caderno
Doze anos de inferno
Chegou hoje o seu destino


Disse Ferrabrás: protesto
Trago toda anotação
Lampião fugiu de lá
Em busca de salvação
Assassinou Buscapé
Atirou em Lucifer
Não merece mais perdão


Levantou-se Lampião
Por esta forma falou
Buscapé eu só matei
Porque me desrespeitou
E Lucifer é atrevido
Se ele tivesse morrido
A mim falta não deixou


Disse Jesus e agora
Deseja voltar à terra
A usar de violência
Matando que só uma fera?
Disse Lampião: Senhor
Sou um pobre pecador
Que a Vossa sentença espera


Disse Jesus: Minha mãe
Vou lhe dar a permissão
Pode expulsar Ferrabrás
Porém tem que Lampião
Arrepender-se notório
Ir até o "purgatório"
Alcançar a salvação


Ferrabrás ouvindo isto
Não esperou por Miguel
Pediu licença e saiu
Nisto chegou Gabriel
Ferrabrás deu um estouro
Se virou num grande touro
Foi dar resposta a Lumbel

Resta somente saber
O que Lampião já fez
Do purgatório será
O julgamento outra vez
Logo que se for julgado
Farei tudo versejado
O mais até lá freguês.

sábado, 8 de outubro de 2011

Um ano como blogeiro

Blog www.chapadadiamantinaemfoco.blogspot.com já ultrapassa a casa dos dez mil acessos

Neste outubro, completamos um ano do www.chapadadiamantinaemfoco.blogspot.com e aquilo que parecia, no início, apenas um passatempo foi ganhando forma e se firmando em minha vida como algo insubstituível. A princípio focado na região da Chapada Diamantina da Bahia, o blog foi se direcionando para Brotas de Macaúbas, cidade onde nasci, bem no coração dessa região diamantífera baiana. Continuamos focados no território, mas a matriz cultural da Chapada tem tido cada vez mais destaque. É aqui que nasci, onde criei raízes e onde decidi morar após mais de 40 anos fora.

Nosso blog ainda engatinha, é verdade, com 41 fiéis seguidores, mas já ultrapassamos a cada dos dez mil acessos, o que considero uma vitória diante do universo ao qual ele se direciona. Estaremos sempre atentos, de forma isenta e jornalística, fazendo um trabalho de divulgação dessa terra e de sua gente.

Confira algumas fotos que ilustraram as matérias publicadas no www.chapadadiamantinaemfoco.blogspot.com em seu primeiro ano de existência.












Século digital tem início com morte de Steve Jobs


Câncer vence o criador da Apple, do iPhod e do Macintosh, que deixa legado inestimável às novas e futuras gerações

Morreu esta semana um dos ícones do mundo moderno, Steve Jobs. Criador da Apple – hoje a segunda empresa mais valiosa do mundo - e do irresistível iPhone, o empresário norte-americano não suportou a um câncer. Deixa o legado, uma empresa multimilionária e o nome na história. Era um homem marcado pela argúcia, principalmente no trato com a mídia, que punha a seu favor. Nesse sentido, Jobs é o último grande nome do século 20, marcado pela ascensão de líderes carismáticos que saíram do nada e mudaram gerações. Está ao lado de nomes como Henry Ford, Alexander Graham Bell, Levi Strauss, Thomas Edison e Bill Gates. Ao deixar a cena desse mundo, ele nos deixa em um mundo que passou sua vida inteira imaginando: o mundo digital.

Conheça o que foi esse homem pelo seu pensamento, expresso em discurso feito na Faculdade de Stanford:

“ Você tem que encontrar o que você ama.

Estou honrado de estar aqui, na formatura de uma das melhores universidades do mundo. Eu nunca me formei na universidade. Que a verdade seja dita, isso é o mais perto que eu já cheguei de uma cerimônia de formatura. Hoje, eu gostaria de contar a vocês três histórias da minha vida. E é isso. Nada demais. Apenas três histórias. A primeira história é sobre ligar os pontos. Eu abandonei o Reed College depois de seis meses, mas fiquei enrolando por mais 18 meses antes de realmente abandonar a escola. E por que eu a abandonei?

Tudo começou antes de eu nascer. Minha mãe biológica era uma jovem universitária solteira que decidiu me dar para a adoção. Ela queria muito que eu fosse adotado por pessoas com curso superior. Tudo estava armado para que eu fosse adotado no nascimento por um advogado e sua esposa. Mas, quando eu apareci, eles decidiram que queriam mesmo uma menina.

Então meus pais, que estavam em uma lista de espera, receberam uma ligação no meio da noite com uma pergunta: "Apareceu um garoto. Vocês o querem?" Eles disseram: "É claro."

Minha mãe biológica descobriu mais tarde que a minha mãe nunca tinha se formado na faculdade e que o meu pai nunca tinha completado o ensino médio. Ela se recusou a assinar os papéis da adoção. Ela só aceitou meses mais tarde quando os meus pais prometeram que algum dia eu iria para a faculdade. E, 17 anos mais tarde, eu fui para a faculdade. Mas, inocentemente escolhi uma faculdade que era quase tão cara quanto Stanford. E todas as economias dos meus pais, que eram da classe trabalhadora, estavam sendo usados para pagar as mensalidades. Depois de seis meses, eu não podia ver valor naquilo. Eu não tinha idéia do que queria fazer na minha vida e menos idéia ainda de como a universidade poderia me ajudar naquela escolha. E lá estava eu, gastando todo o dinheiro que meus pais tinham juntado durante toda a vida. E então decidi largar e acreditar que tudo ficaria ok.

Foi muito assustador naquela época, mas olhando para trás foi uma das melhores decisões que já fiz. No minuto em que larguei, eu pude parar de assistir às matérias obrigatórias que não me interessavam e comecei a frequentar aquelas que pareciam interessantes. Não foi tudo assim romântico. Eu não tinha um quarto no dormitório e por isso eu dormia no chão do quarto de amigos. Eu recolhia garrafas de Coca-Cola para ganhar 5 centavos, com os quais eu comprava comida. Eu andava 11 quilômetros pela cidade todo domingo à noite para ter uma boa refeição no templo hare-krishna. Eu amava aquilo.

Muito do que descobri naquela época, guiado pela minha curiosidade e intuição, mostrou-se mais tarde ser de uma importância sem preço. Vou dar um exemplo: o Reed College oferecia naquela época a melhor formação de caligrafia do país. Em todo o campus, cada poster e cada etiqueta de gaveta eram escritas com uma bela letra de mão. Como eu tinha largado o curso e não precisava frequentar as aulas normais, decidi assistir as aulas de caligrafia. Aprendi sobre fontes com serifa e sem serifa, sobre variar a quantidade de espaço entre diferentes combinações de letras, sobre o que torna uma tipografia boa. Aquilo era bonito, histórico e artisticamente sutil de uma maneira que a ciência não pode entender. E eu achei aquilo tudo fascinante.

Nada daquilo tinha qualquer aplicação prática para a minha vida. Mas 10 anos mais tarde, quando estávamos criando o primeiro computador Macintosh, tudo voltou. E nós colocamos tudo aquilo no Mac. Foi o primeiro computador com tipografia bonita. Se eu nunca tivesse deixado aquele curso na faculdade, o Mac nunca teria tido as fontes múltiplas ou proporcionalmente espaçadas. E considerando que o Windows simplesmente copiou o Mac, é bem provável que nenhum computador as tivesse.

Se eu nunca tivesse largado o curso, nunca teria frequentado essas aulas de caligrafia e os computadores poderiam não ter a maravilhosa caligrafia que eles têm. É claro que era impossível conectar esses fatos olhando para frente quando eu estava na faculdade. Mas aquilo ficou muito, muito claro olhando para trás 10 anos depois.

De novo, você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim.

Minha segunda história é sobre amor e perda.

Eu tive sorte porque descobri bem cedo o que queria fazer na minha vida. Woz e eu começamos a Apple na garagem dos meus pais quando eu tinha 20 anos. Trabalhamos duro e, em 10 anos, a Apple se transformou em uma empresa de 2 bilhões de dólares e mais de 4 mil empregados. Um ano antes, tínhamos acabado de lançar nossa maior criação — o Macintosh — e eu tinha 30 anos. E aí fui demitido. Como é possível ser demitido da empresa que você criou? Bem, quando a Apple cresceu, contratamos alguém para dirigir a companhia. No primeiro ano, tudo deu certo, mas com o tempo nossas visões de futuro começaram a divergir. Quando isso aconteceu, o conselho de diretores ficou do lado dele. O que tinha sido o foco de toda a minha vida adulta tinha ido embora e isso foi devastador. Fiquei sem saber o que fazer por alguns meses. Senti que tinha decepcionado a geração anterior de empreendedores. Que tinha deixado cair o bastão no momento em que ele estava sendo passado para mim. Eu encontrei David Peckard e Bob Noyce e tentei me desculpar por ter estragado tudo daquela maneira. Foi um fracasso público e eu até mesmo pensei em deixar o Vale [do Silício].

Mas, lentamente, eu comecei a me dar conta de que eu ainda amava o que fazia. Foi quando decidi começar de novo. Não enxerguei isso na época, mas ser demitido da Apple foi a melhor coisa que podia ter acontecido para mim. O peso de ser bem sucedido foi substituído pela leveza de ser de novo um iniciante, com menos certezas sobre tudo. Isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida. Durante os cinco anos seguintes, criei uma companhia chamada NeXT, outra companhia chamada Pixar e me apaixonei por uma mulher maravilhosa que se tornou minha esposa.

A Pixar fez o primeiro filme animado por computador, Toy Story, e é o estúdio de animação mais bem sucedido do mundo. Em uma inacreditável guinada de eventos, a Apple comprou a NeXT, eu voltei para a empresa e a tecnologia que desenvolvemos nela está no coração do atual renascimento da Apple. E Lorene e eu temos uma família maravilhosa. Tenho certeza de que nada disso teria acontecido se eu não tivesse sido demitido da Apple. Foi um remédio horrível, mas eu entendo que o paciente precisava. Às vezes, a vida bate com um tijolo na sua cabeça. Não perca a fé. Estou convencido de que a única coisa que me permitiu seguir adiante foi o meu amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que você ama. Isso é verdadeiro tanto para o seu trabalho quanto para com as pessoas que você ama.

Seu trabalho vai preencher uma parte grande da sua vida, e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um ótimo trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que você faz.

Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue. Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor e melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até você achar. Não sossegue.

Minha terceira história é sobre morte.

Quando eu tinha 17 anos, li uma frase que era algo assim: "Se você viver cada dia como se fosse o último, um dia ele realmente será o último." Aquilo me impressionou, e desde então, nos últimos 33 anos, eu olho para mim mesmo no espelho toda manhã e pergunto: "Se hoje fosse o meu último dia, eu gostaria de fazer o que farei hoje?" E se a resposta é "não" por muitos dias seguidos, sei que preciso mudar alguma coisa. Lembrar que estarei morto em breve é a ferramenta mais importante que já encontrei para me ajudar a tomar grandes decisões. Porque quase tudo — expectativas externas, orgulho, medo de passar vergonha ou falhar — caem diante da morte, deixando apenas o que é apenas importante. Não há razão para não seguir o seu coração. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.

Há um ano, eu fui diagnosticado com câncer. Era 7h30 da manhã e eu tinha uma imagem que mostrava claramente um tumor no pâncreas. Eu nem sabia o que era um pâncreas. Os médicos me disseram que aquilo era certamente um tipo de câncer incurável, e que eu não deveria esperar viver mais de três a seis semanas. Meu médico me aconselhou a ir para casa e arrumar minhas coisas — que é o código dos médicos para "preparar para morrer". Significa tentar dizer às suas crianças em alguns meses tudo aquilo que você pensou ter os próximos 10 anos para dizer. Significa dizer seu adeus.

Eu vivi com aquele diagnóstico o dia inteiro. Depois, à tarde, eu fiz uma biópsia, em que eles enfiaram um endoscópio pela minha garganta abaixo, através do meu estômago e pelos intestinos. Colocaram uma agulha no meu pâncreas e tiraram algumas células do tumor. Eu estava sedado, mas minha mulher, que estava lá, contou que quando os médicos viram as células em um microscópio, começaram a chorar. Era uma forma muito rara de câncer pancreático que podia ser curada com cirurgia. Eu operei e estou bem.

Isso foi o mais perto que eu estive de encarar a morte e eu espero que seja o mais perto que vou ficar pelas próximas décadas. Tendo passado por isso, posso agora dizer a vocês, com um pouco mais de certeza do que quando a morte era um conceito apenas abstrato: ninguém quer morrer. Até mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim é como deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Ela limpa o velho para abrir caminho para o novo. Nesse momento, o novo é você. Mas algum dia, não muito distante, você gradualmente se tornará um velho e será varrido. Desculpa ser tão dramático, mas isso é a verdade.

O seu tempo é limitado, então não o gaste vivendo a vida de um outro alguém. Não fique preso pelos dogmas, que é viver com os resultados da vida de outras pessoas. Não deixe que o barulho da opinião dos outros cale a sua própria voz interior. E o mais importante: tenha coragem de seguir o seu próprio coração e a sua intuição. Eles de alguma maneira já sabem o que você realmente quer se tornar. Todo o resto é secundário.

Quando eu era pequeno, uma das bíblias da minha geração era o Whole Earth Catalog. Foi criado por um sujeito chamado Stewart Brand em Menlo Park, não muito longe daqui. Ele o trouxe à vida com seu toque poético. Isso foi no final dos anos 60, antes dos computadores e dos programas de paginação. Então tudo era feito com máquinas de escrever, tesouras e câmeras Polaroid.

Era como o Google em forma de livro, 35 anos antes de o Google aparecer. Era idealista e cheio de boas ferramentas e noções. Stewart e sua equipe publicaram várias edições de Whole Earth Catalog e, quando ele já tinha cumprido sua missão, eles lançaram uma edição final. Isso foi em meados de 70 e eu tinha a idade de vocês. Na contracapa havia uma fotografia de uma estrada de interior ensolarada, daquele tipo onde você poderia se achar pedindo carona se fosse aventureiro. Abaixo, estavam as palavras: "Continue com fome, continue bobo." Foi a mensagem de despedida deles. Continue com fome. Continue bobo. E eu sempre desejei isso para mim mesmo. E agora, quando vocês se formam e começam de novo, eu desejo isso para vocês. Continuem com fome. Continuem bobos.

Obrigado”.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caruru de Cosme e Damião, tradição da Bahia?



“São Cosme mandou fazer


Uma camisinha azul


No dia da festa dele


São Cosme quer Caruru


“Cosme e Damião


Vêm comer teu Caruru


Que é de todo ano


Fazer Caruru pra tu”

Uma das melhores coisas que conheci em Salvador foi sem dúvida uma iguaria feita com quiabos: o caruru. Trata-se de uma instituição baiana que, de tão popular, virou sinônimo de um conjunto de comidas – vatapá, xinxin, arroz, farófia de dendê, abará e acarajé e um sem número de outros complementos, a depender da data e da ocasião. Costumava me refestelar com tais iguarias, um costume quase religioso às sextas-feiras. Lembro que da primeira fez que a comida foi feita em minha casa saí cedo para comprar o quiabos no antigo Hiper Paes Mendonça.

Para minha surpresa, uma mulher dócil e diligente ajudou-me na escolha – “tem que cortar a ponta meu filho, se partir fácil, é porque está bom”, me segredou dona Claudionor Teles Veloso, Dona Canô, a mãe de Caetano e Bethania. Nunca me esquecerei do sorriso daquela senhora, hoje com 104 anos, que me iniciou nessa importante empreitada, “porque quiabo duro não presta pra fazer caruru”.

Nesta terça-feira, 27 de setembro, Salvador se transforma num imenso caruruzal. Milhares de casas preparam essa iguaria e a oferecem a sete meninos, multiplicando as homenagens aos santos gêmeos Cosme e Damião e aos Ibejis com os quais os devotos católicos e de santos do Candomblé se desdobram em fazê-lo. Hoje, estou morando aqui na Chapada Diamantina – cartão postal do Brasil -, mas em minha Brotas de Macaúbas natal pouco se conhece de caruru muito menos de Ibejis. Fica na saudade de um dos melhores rangos que já provei em minha vida.

Traço cultural do povo baiano, o caruru não permeia, infelizmente, todas as regiões do estado.


ACTA E PASSIO
O caruru de Cosme e Damião está inserido nos cultos afro-brasileiros que celebram os santos gêmeos a 27 de setembro, um dia após os mesmos serem lembrados pela Igreja Católica . Os nomes originais dos santos eram Acta e Passio, originários da Síria e Armênia e que pregavam o cristianismo, "curando as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder". Passaram depois a ser conhecidos como Cosme (O Enfeitado) e Damião (O Popular). Foram perseguidos e mortos por Diocleciano (303), acabaram padroeiros de cirurgiões, físicos, farmacêuticos e faculdades de medicina em geral. Além de barbeiros e cabeleireiros.

Os santos Cosme e Damião no Brasil, além do caruru tão apreciado, uniram as nossas três culturas básicas, formadoras da nação brasileira: portuguesa, africana e indígena. A devoção nos foi trazida por colonizadores portugueses, mas os escravos que aqui vieram, todos da África Ocidental (Angola, Costa do Marfim, Guiné, Congo), mantiveram os rituais religiosos e a fé nos deuses de sua terra distante. Inclusive nos orixás-meninos (Ibejís). Mas aprenderam a sincretizar com os santos católicos, cujos cultos lhes eram impostos.

Na festa manda a tradição distribuir brinquedos e doces com a criançada; porque, segundo se acredita, só assim serão atendidos os pedidos feitos aos Santos. Em muitos lugares, especialmente na Bahia (Salvador e cidades ao seu entorno), a celebração se faz sobretudo com mesa farta, servindo-se pratos preparados com azeite (de dendê, claro), usado sobretudo em peixes, mariscos e vegetais, próprios para dias de abstinência e jejum. Entre eles abará, acarajé, bobó de camarão, efó, frigideiras, maxixadas, moquecas, vatapá, xinxim de galinha; e, principalmente, o Caruru. Reza a tradição que primeiro deve-se se servir a sete crianças (preferencialmente meninos) que o comem com as mãos, sentadas no chão.

O nome caruru vem de caá (folha) ruru (inchada), receita indígena feita originalmente apenas de ervas socadas com pimenta, no pilão. Os escravos africanos foram acrescentando novos ingredientes: amendoim, azeite de dendê, camarão seco, castanha de caju, cebola, gengibre, quiabo. E quanto mais quiabo tenha o caruru, mais importante é o prato. A receita foi depois levada de volta para África, em cada lugar recebendo nomes diferentes: calulu em Moçambique, Congo, Cabinda e São Tomé; funji de peixe, em Luanda; obbé em Nigéria e Daomé.



RECEITA DO CARURU

Ingredientes

2 kg de quiabo

5 cebolas

300 gr de camarão seco

250 gr de amendoim

250 gr de castanha de caju

1 colher de chá de gengibre ralado

1 xícara de azeite de dendê

Sal

Preparo

- Lave o quiabo, deixe escorrer e seque bem. Pique bem miúdo. Reserve.

- Passe as cebolas no processador. Reserve.

- Passe metade do camarão seco no processador. Reserve.

- Bata no liquidificador o amendoim e a castanha com meio copo de água. Reserve.

- Em uma panela coloque azeite de dendê. Refogue cebola e quiabo. Junte os camarões secos (os triturados e os inteiros). Depois, junte também gengibre, castanha e amendoim. Se necessário, coloque sal. Deixe no fogo, até engrossar.



Caruru de Cosme e Damião

Com texto e fotos da jornalista Agnes Mariano, deixo aos leitores mais um pouco da história dos santos gêmeos e do caruru nosso de todos os dias:

“A festa é caseira, mas farta. Todos os anos, no mês de setembro, ela acontece em milhares de lares baianos. Difícil imaginar uma mais sincrética. O “Caruru de São Cosme e São Damião” homenageia os santos gêmeos da igreja católica, os Ibêjis do candomblé e também as crianças. Tudo precisa ser feito no mesmo dia: caruru, xinxim de galinha, vatapá, arroz, milho branco, feijão fradinho, feijão preto, farofa, acarajé, abará, banana-da-terra frita e os roletes de cana. A dimensão da oferenda é medida pela quantidade de quiabos do caruru. Cada um faz como pode: mil, três mil ou até 10 mil quiabos. Quando a comida fica pronta, coloca-se uma pequena porção nas vasilhas de barro aos pés das imagens dos santos, ao lado das velas, balas e água. Depois, serve-se o caruru a sete meninos com, no máximo, 7 anos cada. Eles comem juntos, com as mãos, numa grande gamela de barro ou bacia. Só então é a vez dos convidados participarem da celebração.

A história da devoção a São Cosme e São Damião é antiga e atravessa continentes. Na Bahia, a fé nos santos irmãos ganhou importância principalmente pelo sincretismo com Ibeji, o orixá duplo dos nagôs, que representa os gêmeos. A mistura foi tão completa que ultrapassou a fronteira das religiões e classes: católicos e adeptos do candomblé, ricos e pobres oferecem a mesma comida sacrificial do candomblé às imagens dos santos cristãos. E mais, chega-se a fabricar imagens dos santos que incorporam uma terceira figura – Doú – uma corruptela de “idowu”, o nome dado, numa família nagô, àquele que nasce depois de um par de gêmeos. “Sempre tidos como muito traquinas, os idou deram origem ao ditado nagô: Exu lehin Ibeji – Exu vem depois dos Ibeji”, explica o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, em seu texto “Cosme e Damião no Brasil e na África”.

Quem assume a devoção aos santos e a obrigação de oferecer o caruru todos os anos, geralmente tem um bom motivo. Há 25 anos, no mês de setembro, Joselita Bulhões deu à luz a um dos seus filhos. Muitos moradores de Muritiba já estavam envolvidos com as festividades para os santos, que incluía caruru e foguetes. A criança, que tinha nascido com problemas respiratórios e peso excessivo – seis quilos -, por ter engolido o líquido da placenta, foi imediatamente para o médico. À noite, quando tinha retornado para casa, já à salvo da primeira dificuldade que enfrentou no mundo, o bebê novamente correu risco de vida. O vizinho da casa em frente resolveu soltar foguetes para homenagear os santos. O primeiro deles quebrou uma telha da casa de Joselita e caiu sobre o travesseiro onde o bebê dormia, a poucos centímetros do seu rosto. Interpretando esses acontecimentos como provas da intervenção dos santos irmãos, Joselita decidiu oferecer, todos os anos, o caruru em homenagem a eles. Hoje adulto, o seu filho, que também se tornou médico, como Cosme e Damião, faz questão de colaborar para manter a tradição.



Na família do Mestre Curió, da capoeira Angola, a tradição do caruru vem dos antepassados. “Começou com meu bisavô, passou pra meu avô e depois pra meu pai, que parou porque entrou para a lei de crente”. Além da vontade de prosseguir com a tradição familiar, Mestre Curió decidiu “tomar essa responsabilidade” por uma impressionante coincidência na sua vida: “Sou gêmeo, minha mulher é gêmea, tenho um casal de gêmeos e minha mãe era gêmea”. O caruru, que ele oferece em janeiro – mês do seu aniversário e do seu grupo de capoeira – acontece em três etapas. A primeira é na academia Mestre Pastinha, com três mil quiabos. A segunda, na academia dos Irmãos Gêmeos – para os sete meninos, alunos e convidados. E, depois, em sua própria casa.



Oferenda, sacrifício e obrigação

Os santos são católicos, mas a forma de homenageá-los é africana. Segundo o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, “os iorubás, em suas várias etnias, entendem o sacrifício, o ebó, como a forma essencial da sua comunicação com os orixás”. O caruru – dos Ibeji ou de São Cosme e São Damião “seria, então, mais do que uma oferenda, mas um sacrifício: o que na Bahia, o povo-de-santo chama de ‘obrigação’, que tem um preço e custa dinheiro. É como se desfazer de algo muito valioso”.

Joselita Bulhões conta que, nesses 25 anos, pensou algumas vezes que não fosse fazer o caruru, por causa de problemas financeiros, mas sempre conseguiu manter a promessa. “Pra mim, eles são santos vivos: o que você pedir, eles atendem. Uma vez, a situação estava tão difícil, que eu fiz uma prece bem forte. Na mesma hora, meu marido entrou. Tinha conseguido um dinheiro, nós mudamos de casa e eu fiz o caruru”, conta ela, que tem um pequeno oratório para os santos na lavanderia de sua casa. Hoje em dia, oferece anualmente um caruru completo e farto, com mais de dois mil quiabos escolhidos cuidadosamente na Feira de São Joaquim.

Nas últimas décadas, tem sido feita freqüentemente uma associação entre os santos católicos e os erês, que é um estado infantilizado do transe no candomblé. Por isso, inclui-se a distribuição de balas, doces e refrigerantes nas homenagens aos santos, especialmente no Rio de Janeiro. Mas são poucas as casas de candomblé que fazem obrigações para os Ibeji, geralmente discretas e não necessariamente em setembro. Outro detalhe é que não se tem notícias de filhos-de-santo de Ibeji na Bahia.



Coisas da Bahia

Todos os dias, antes das 6h, quando acontece a primeira missa na Igreja de São Cosme e São Damião, no bairro da Liberdade, já é possível encontrar pessoas na porta. Pequena, simples, mas visitada durante o ano inteiro, a igreja precisa conviver cotidianamente com o sincretismo que caracteriza a devoção a esses santos. “Só na Bahia existem essas imagens com Doú. Quando as pessoas trazem elas, nós explicamos que não podemos benzer e elas trocam as imagens”, explica o padre Ciro. Com muitos fiéis também em outros países, o padre lembra que existem igrejas para São Cosme e São Damião em Roma e no Rio de Janeiro, e que existe uma missa própria para eles na liturgia católica. O dia reservado para os santos é 27 de setembro.

Para os católicos, não há provas de que os santos fossem gêmeos. Conta-se que eles eram irmãos, nascidos na Arábia e filhos de uma viúva. Formados em medicina, na Síria, além das curas realizadas, pregavam o cristianismo. Por estarem convertendo muitas pessoas e também por trabalharem gratuitamente, foram perseguidos e condenados pelo tribunal de Lísias. Sofreram muitas torturas, às quais sobreviveram, até que, em 303, foram decapitados. “Eles são santos muito carismáticos, porque defendiam os humildes, curavam as doenças físicas, sem nunca terem cobrado um centavo. Curavam, também, as doenças da alma”, comenta o padre Ciro, explicando a legião de devotos que os santos conquistaram nos últimos séculos.

Vitalino dos Santos, 67 anos, que trabalha na Paróquia de São Cosme e São Damião desde 1957, já viu muitas formas de manifestação de fé. “As pessoas trazem velas para acender e imagens para ficar na igreja”. Para ele, seja no caso de São Cosme e São Damião ou qualquer outro santo, o mais importante é o exemplo que deixaram: “Os santos foram pessoas como nós, que enfrentaram muitas dificuldades, mas com força e coragem”.


Comida de sexta-feira

Seja por motivos religiosos, gustativos ou nutricionais, o caruru é um prato sempre presente na mesa baiana. Já é uma tradição: na sexta-feira, a maioria dos restaurantes da cidade inclui o prato no cardápio. Em setembro, por causa do caruru religioso, os comerciantes aproveitam para subir os preços dos produtos, porque têm a certeza de que as vendas irão aumentar.

Na Feira de São Joaquim, onde a maioria dos devotos se abastece, o preço do quiabo varia a cada dia de setembro. Segundo o feirante conhecido por Toinho, as vendas já foram bem melhores. “Agora todo mundo é crente, pouca gente dá caruru. Antes, numa rua qualquer, mais de 10 casas davam caruru”, afirma ele, sem negar que o aumento das vendas ainda acontece. “Se normalmente eu vendo quatro sacos por mês, em setembro, são oito ou 10 sacos de quiabo”, sintetiza o feirante José Paes. Sobre os preços, a feirante Maria Lúcia Falcão explica: “Ontem, o cento estava por R$2,00. Hoje está por R$1,50, porque entrou mais quiabo. Depois do dia 10, vai para R$2,50 ou R$3,00”.

Alguns usam só quiabo, cebola, sal, camarão e azeite de dendê. Outros acrescentam castanha, amendoim, pimentão e tomate. Segundo a nutricionista Joseni França, o caruru é mesmo um prato muito rico: “O quiabo tem muito ferro, mas um tipo de ferro que para ser melhor assimilado precisa ser combinado com fontes de vitamina C, como limão, tomate, pimentão. O dendê tem o betacaroteno, que o nosso corpo transforma em vitamina A, boa para a pele e para os olhos. Já com as castanhas e o amendoim, o prato ganha em proteínas e uma forma saudável de gordura”.



CURIOSIDADES

- Mas por que caruru para sete meninos? Segundo a peculiar tradição afro-luso-baiana, existiam sete irmãos: Cosme, Damião, Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi, conta Odorico Tavares, em seu livro “Bahia – Imagens da terra e do povo”.

- A fertilidade das iorubás, que tem inclusive motivado pesquisas médicas, provavelmente é um dos motivos da importância dos santos e orixás irmãos. A Nigéria, inclusive, é o país com o maior índice de nascimento de gêmeos no mundo inteiro.

- No modo africano de homenagear os Ibeji e também outros orixás, o pedido de esmola para a preparação da comida é um ponto fundamental. A mesma tradição já existiu na Bahia, mas foi abandonada pela maioria das pessoas. Entretanto, ainda é possível encontrar quem mantenha esse costume, inclusive fora da Bahia.

- Existem várias recomendações para quem faz o caruru, que cada um escolhe obedecer ou adaptar. Quem oferece o caruru deve cortar o primeiro quiabo e, depois de pronto, colocar a comida aos pés dos santos em vasilhas novas e fazer um pedido. A galinha do xinxim não pode ser comprada morta. Durante a festa não deve ser servida bebida alcoólica. E quem encontrar no prato um quiabo inteiro deve oferecer um caruru no próximo ano.

Sugestões de leitura

LIMA, Vivaldo da Costa. Cosme e Damião: o culto aos santos gêmeos no Brasil e na África. Salvador: Corrupio, 2005.


____. Oferendas e sacrifícios: uma abordagem antropológica. In: FORMIGLI, Ana Lúcia (Org). Parque Metropolitano de Pirajá: história, natureza e


cultura. Salvador: Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu/Editora do Parque, 1998, p. 57-65.


TAVARES, Odorico. Bahia: imagens da terra e do povo. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951.

sábado, 24 de setembro de 2011

A maxixada do juiz


Transformada em conto, essa história é real e me foi contada pelo amigo Aldivan Fernandes e aconteceu lá pras bandas da sua Lagoa de dentro Natal


Marciana, mulher determinada, tirava o próprio sustento numa pequena propriedade – uma rocinha, lá atrás do morro -, próximo à Lagoa de Dentro onde morava desde o nascimento, lá se vão 70 anos. Da sua casa, na parte alta do lugarejo, bem pertinho da igreja da polêmica - de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Polêmica, porque construída por negros descendentes de escravos acabou se transformando no centro de uma briga, uma vez que as famílias de pele branca queriam se apossar da capela e da imagem vinda do estrangeiro. Mas os tempos são outros e outra capela, agora para a Rainha, também Nossa Senhora, fora construída de modo a atender um racismo inexplicável à luz da religião.

Marciana era devota de Maria, batizada que fora na tal igrejinha dos pretos, apesar da pela clara, corpo miúdo. O excesso de peso lhe dava a impressão de estar enfiada a força no vestido bem composto, abaixo do joelho. A lida na casa, onde cozinhava, fazia café, limpava e deixava tudo em ordem, não a impedia de fazer sua plantação de milho, feijão, melancia e maxixe no tempo das águas – entre outubro e março - quando a chuva quebrava a rotina de sol a pino nos cafundós do sertão de Palmeiral, onde a Lagoa de Dentro se localizava.

Naquele ano de fartura, milho e feijão jogavam cabriola na rocinha da Marciana, que era visitada por ela religiosamente todos os dias para capinar, plantar, cuidar e colher os frutos da terra tão pródiga. Na tarde daquela sexta-feira ela esperava colher os primeiros maxixes que se transformariam numa belíssima maxixada, o almoço do sábado. Abraçada a uma cesta de vime lá se foi cantarolando até a plantação onde uma surpresa desagradável a aguardava. Em meios aos maxixes, alguém teve a ousadia de fazer um serviço esquisito, grande e fedorento, que fez a Marciana num rompante sair de volta pra casa com muita raiva e nojo.

- Uncuncuncun, só pode ter sido obra do Zezão.

Disse, referindo-se a Zé de Alvino, antigo desafeto com quem costumava bater boca sempre por algum motivo, seja lá política e até futebol, já que era fanática pelo “glorioso” Botafogo Futebol e Regatas e ele pelo Flamengo.

Marciana estava revoltada em ver seu maxixal ser transformado numa latrina. Era desaforo que ela não admitiria de forma alguma. Se queixaria ao bispo da Barra, se preciso fosse.

- No tempo do padre Carrilho isso não aconteceria!

Gritou para a vizinha, dona Maroca, referindo-se ao legendário pároco, nos dias de hoje nome da principal rua de Palmeiral. Marciana esqueceu o terço, as esmolas do Divino - da qual era das mais entusiasmadas participantes quando o imperador e a bandeira chegavam à Lagoa de Dentro trazendo um mundaréu de devotos -, e xingava o Zezão de tudo quando era nome. Foi quando a Maroca a informou que o juiz da Comarca, Dr. Antônio Rodrigues Barbosa, encontrava-se no lugarejo em visita a Dolores e Pio, casal mais abastado das redondezas. Só deu tempo de jogar uma água no corpo, botar o vestido de bolinha azul, presente da comadre Dozinha, calçar o sapato de missa e jogar o xale na cabeça.

Marciana seguiu determinada a dar parte ao juiz e exigir uma punição para Zé de Alvino. No solar de Pio e Dolores, Dr. Antônio descansava na sala principal degustando um licor de jenipapo com lascas de requeijão, isso após se refestelar com galinha caipira ao molho pardo e uma maxixada, como ele, dizia, “inesquecível obra prima” de sua anfitriã.

Foi com a lembrança na maxixada do almoço que o juiz recebeu Marciana e a sua queixa.

- Doutor, só Deus sabe com que dificuldade me dirijo a Vossa Excelência. É que eu tenho uma rocinha, lá atrás do morro, onde planto uma verdurinhas... E qual não foi a minha desventura hoje quando ao tentar colher uns maxixes para a maxixada sagrada do sábado, me deparei com um tolete de bosta sem tamanho, obra do José de Alvino.

- Traga o meliante à minha presença.

O juiz intimou a vinda do Zezão e mandou o sobrinho dos donos da casa – Aldivan - ir buscá-lo, ele que naquela hora estava tranqüilo em casa fumando o cigarrão de palha de todos os dias. O chamado da autoridade era uma ordem. Ele apagou a contragosto o cigarro, meteu a camisa nas calças, enfiou as alpercatas nos pés e seguiu para ver o que o senhor doutor queria com ele.

- Como o senhor teve a coragem de defecar...

- Defecar o que meu doutor?

- Como o senhor teve a coragem de cagar nas verduras dessa pobre velhinha?

Puxando o nariz, que era virado pro lado esquerdo, e que coçava muito quando ficava nervoso, Zezão assegurou ao juiz que não havia sido ele o autor de tamanha desfaçatez. Do outro lado da sala, Marciana interrompeu-o e gritou em alto em bom tom para todo mundo ouvir, já que a sala estava repleta de curiosos.

- Foi ele doutor, foi ele sim. Eu conheço a rosca!

Depois da “balada” recebida do juiz que prometeu mandar prendê-lo se repetisse a façanha no maxixal da Marciana, o Zezão ficou três meses só bebendo, em casa, morto de vergonha de todo mundo.

A UFBA ABDICOU DE PENSAR


Jornalista Waldomiro Júnior denuncia resistência ao nome de Milton Santos para o Instituto de Geociêcias
Por Waldomiro Júnior * (A TARDE)

Dez anos após a sua morte, Milton Santos ainda enfrenta resistência na Ufba. Professores não querem dar seu nome a um auditório no Instituto de Geociência, sob a alegação absurda de que ele não teria sido professor da universidade. Não vamos perder tempo citando o currículo que o credenciou intemacionahnente como um dos principais pensadores do século XX.
Nem lembrar sua atuação como docente da Ufba (se alguém da própria universidade desconhece esses fatos, estamos diante de PhDs em ignorância acadêmica). Também não vamos nos referir à possibilidade de racismo ou inveja da notoriedade mundial conquistada por um negro. 0 centro dessa “inusitada” resistência é o combate sem tréguas de Milton contra a universidade que não pensa.
A Ufba já esteve entre as mais avançadas universidades latinas. Dos seus quadros saíram governadores, ministros, secretários de Estado, mas também as principais propostas para o desenvolvimento da Bahia e outras que influenciaram os destinos do País. Hoje, quem é o nosso Rômulo de Almeida? Quem é o nosso Orlando Gomes? Quem é o nosso Milton Santos? No que a Ufba tem contribuído para a solução dos nossos problemas? Que referência tem no plano nacional?
Temos uma universidade que abdicou de pensar, voltada para dentro, perdida nos confrontos pelo domínio de guetos, na disputa surda e insana por um poder abstrato, que em nada contribui para o conhecimento científico e, muito menos, para a sociedade. É a briga primitiva pelo território, não o território coletivo, agente de transformações, analisado na obra de Milton, mas o território individual da vaidade, o status obtido pelo cargo e não pelo saber.
Em Pernambuco, a universidade faz do conhecimento instrumento a serviço da sociedade. Resultado: há cinco anos os pernambucanos crescem o dobro da Bahia. E lá, políticos não precisam convocar a universidade. Ela se faz presente, porque o seu ofício é discutir, pensar e propor soluções. Aqui a nossa universidade está mais para o carreirismo acadêmico, aquele modelo que Milton tão corajosamente combateu.

* Waldomiro Júnior é Jornalista.
Artigo publicado no Jornal "A Tarde" da Bahia e no http://www.politicalivre.com.br/index.php/2011/09/a-ufba-abdicou-de-pensar/

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Brotas de Macaúbas finaliza Parque Eólico

                                                                                              
 

Primeiro empreendimento desse tipo de geração de energia da Bahia começa a funcionar em novembro


O primeiro parque eólico da Bahia, instalado no município de Brotas de Macaúbas, Chapada Diamantina, entra em operação no final do mês de novembro. A estrutura principal já está montada e resta apenas a conclusão da subestação, que vai levar a energia produzida à rede de distribuição nacional, para que os aerogeradores comecem a funcionar. Cada um dos 57 cata-ventos gigantes que formam o parque tem 80 metros de altura. Eles vão aproveitar a força dos ventos e produzir eletricidade suficiente para abastecer uma cidade maior que Vitória da Conquista.
No local onde está instalado o parque, no alto da Serra da Mangabeira, o vento tem velocidade média de 25 quilômetros por hora. O engenheiro responsável pela obra, Eduardo Bottacin, afirmou que para começar a produzir energia elétrica o aerogerador precisa de vento a partir de 11 quilômetros por hora. “O potencial de geração aqui é de 90 megawatts. Esta é uma das melhores áreas do estado, porque tem potencial suficiente para produção de energia”.
Com a entrada em operação do seu primeiro parque eólico, o estado se prepara para instalar outros 51. No país, a Bahia lidera o número de projetos neste setor. A previsão é que 18 novos empreendimentos entrem em operação até o final de 2012 e formem o principal polo eólico do Brasil. Além dos parques, o estado começa a receber fábricas de torres e aerogeradores. A Gamesa, empresa espanhola especializada na construção de turbinas geradoras, já inaugurou uma unidade em Camaçari, e a francesa Alston inaugura outra até o final deste ano.
Responsável pela relação entre os empresários e o governo estadual, o secretário da Indústria, Comércio e Mineração, James Correia, disse que a instalação de uma fábrica dessa é uma decisão meramente empresarial. Segundo ele, as empresas estão se instalando aqui porque a Bahia tem o maior potencial para esse tipo de energia hoje no Brasil e tem atuado para apoiar as iniciativas.





MAIS OFERTA DE ENERGIA

Os novos projetos vão aumentar a oferta de energia elétrica na Bahia, garantindo fornecimento suficiente para o crescimento econômico. Além disso, a energia eólica é considerada uma das mais limpas – não gera impacto, como inundações, fumaça ou resíduos.
Para o biólogo Márcio Zanotto, o principal impasse durante a instalação é a construção da estrada até o local. Durante a operação, o risco é o choque de aves migratórias com a parte móvel dos aerogeradores. “Vamos monitorar durante os primeiros anos, e, caso aconteça, existem soluções viáveis para evitar esse choque”.
                                                                                                                            Fotos de Alberto Coutinho/SECOM




ESTRUTURA GRANDIOSA

A estrutura do primeiro parque eólico da Bahia é grandiosa. As torres têm a altura equivalente a 18 andares e quando giram as pás do cata-vento chegam a quase 30, equivalente a 120 metros de altura. Elas podem ser vistas a uma distância de 90 quilômetros por quem passa pela BR-242, na altura de Brotas de Macaúbas.
Para quem mora nas comunidades próximas ao parque, além da admiração, a chegada das torres trouxe os ventos da oportunidade. Os projetos geram muitos empregos durante a fase de construção e 600 operários da região foram contratados.
Hélio Oliveira, encarregado de obras, mora a 15 minutos do canteiro, no distrito de Sumidouro. Para trabalhar ali, ele desistiu dos planos de procurar emprego em São Paulo, empreitada que já repetiu três vezes, desde os 17 anos. Hoje, aos 34, acredita que tomou a melhor decisão. “Sou encarregado e estou usando o dinheiro para construir minha casa e ficar de vez em Sumidouro com minha mulher e o filho que estamos esperando”.

Com informações da Secom – Secretaria de Comunicação do governo da Bahia