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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TURISMO

Chapada Diamantina recebe primeiro torneio Claro Brasil Ride



Cerca de 400 ciclistas de 11 países transformarão a Chapada Diamantina numa grande trilha durante o primeiro torneio Claro Brasil Ride, de 14 a 19 de novembro. Os atletas serão divididos em 200 equipes, num evento que conta com o apoio da Secretaria do Turismo, através da Bahiatursa, que vem incentivando o turismo na Chapada.

A maratona terá duas bases de saída, as cidades de Mucugê e Rio de Contas. Cada saída durará três dias, com os atletas passando por várias outras cidades da região, começando no dia 14 e encerrando no dia 19 de novembro.

De acordo com os organizadores do evento, a Chapada Diamantina foi escolhida para o torneio, por apresentar paisagens com imensos platôs, cachoeiras, grutas profundas, rios subterrâneos, além da riquíssima fauna e flora.


Entre serras, vales e rios, nas trilhas da Chapada Diamantina, no Centro da Bahia, estão o cenário perfeito para a épica corrida de seis dias. De 14 a 19 de Novembro de 2010, centenas de atletas terão uma experiência de vida inesquecível na Claro Brasil Ride

A estrutura, comparada apenas às maiores ultramaratonas do mundo, fornecerá aos competidores tudo o que é necessário – água, comida, alojamento, suporte técnico –, enquanto eles se preocupam somente com o que mais gostam de fazer, pedalar. Cada dia de prova terá em média 80 a 100 quilômetros do mais puro BTT, pelos caminhos abertos no garimpo de diamantes do século XVIII.

Texto e foto: Divulgação

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Jornalista concorre a prêmio

A jornalista e repórter da Tribuna da Bahia Alessandra Nascimento está representando a Bahia no Prêmio Jornalistas & Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade 2010 que tem por objetivo divulgar matérias relacionadas a questões de sustentabilidade. A Tribuna da Bahia concorre com veículos de peso do jornalismo nacional. A série de reportagens sobre o Parque Eólico da Bahia com menção ao projeto desenvolvido no município de Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina, está inscrita representando o estado da Bahia ao prêmio nacional. A série de reportagens ganhou notoriedade ao sair publicada na edição de setembro deste ano na Tribuna com o nome "Desenvolvimento Racional".

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

TURISMO

Vale do Pati considerado melhor roteiro do Brasil‏
Com paisagens exuberantes e trilhas que atraem turistas de várias partes do mundo apaixonados por aventura, o Vale do Pati, no município de Andarai, na Chapada Diamantina, foi o escolhido pelo Ministério do Turismo como o mais importante na categoria Roteiro Turístico Segmentado do Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil.

O roteiro apresentado pela Secretaria de Turismo do Estado (Setur), Bahiatursa e Trekking no Vale do Pati, que se classificou em primeiro lugar, concorreu com projetos de outros estados, analisados de 14 a 16 de abril por uma comissão de especialistas.
Essa é a primeira vez que a Bahia se classifica no programa. O diretor de Serviços Turísticos da Bahiatursa, Weslen Moreira, destacou a importância do prêmio para o estado.
“É o reconhecimento do grande potencial que a Bahia possui, não só no turismo de aventura como em diversos outros segmentos turísticos. É importante que os destinos se adequem às exigências do Ministério do Turismo e ampliem cada vez mais a profissionalização”.

Considerado como um dos mais bonitos do país, o Trekking do Vale do Pati é uma caminhada de 76 quilômetros feita em cinco dias, que começa no Vale do Capão, no município de Palmeiras, passando por Mucugê, até chegar a Andaraí.
Durante o percurso, o turista tem a oportunidade de desfrutar de belíssimas cachoeiras pouco exploradas, visualizar espécies únicas de orquídeas e passar por campos muito altos, que proporcionam uma grandiosa visão da natureza.
Além dos atrativos naturais, o roteiro também oferece a oportunidade de convívio com os moradores do local, uma vez que não existem pousadas no Vale e as quatro noites do roteiro só podem ser passadas em casas de nativos, onde o viajante tem contato direto com a cultura local.
Este ano, o troféu contou com nove categorias e dez programas foram premiados. Das candidaturas recebidas, 57% foram apresentadas pela região Sudeste, 25% (Sul), 12 (Nordeste) e 6% (Centro-Oeste). Os vencedores receberam o Trófeu Roteiros do Brasil durante o 5º Salão do Turismo, em São Paulo.



Texto e foto: Agecom

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Usina eólica muda realidade da Chapada

Um investimento de aproximadamente R$ 400 milhões possibilitará a implantação de um parque eólico com três usinas, com capacidade instalada para geração de 90 MW de energia elétrica a partir da força dos ventos em Brotas de Macaúbas, na Chapada Diamantina, a 600 quilômetros de Salvador. A implantação desta usina de produção de energia limpa vai gerar 300 empregos diretos em sua fase de implantação e mais 30 empregos na fase de operação, com previsão de faturamento anual estimado em R$ 41 milhões. As obras já estão iniciadas e a conclusão está prevista para julho de 2011.


O empreendimento confirma os estudos realizados há dez anos, que identificaram o grande potencial eólico brasileiro da região Nordeste, na faixa litorânea que vai do Rio Grande do Norte ao Piauí e na região da Chapada Diamantina, na Bahia. Entretanto, diversos outros aspectos fizeram com que a Desenvix escolhesse a Bahia, como explicam os seus diretores José Antunes Sobrinho e Liu Ming. Como assegura o prefeito de Brotas de Macaúbas, Litercílio Nunes, a usina eólica vai mudar a realidade econômica de nossa região, trazendo desenvolvimento e progresso.

De acordo com Antunes Sobrinho, pesquisas realizadas durante três anos apontaram a Bahia como o melhor local para o investimento. “Como empreendedores, preferimos o estado porque construções deste tipo perto do litoral são mais complexas do ponto de vista ambiental e logístico. Além disso, temos um bom histórico de investimentos na Bahia”, diz, citando as inversões feitas no Polo de Camaçari e a participação na concessão da Via Bahia, que irá administrar por 25 anos o trecho de 680 quilômetros das rodovias BR-116 e BR-324, e BA-526 e BA-528.

A Desenvix tem participação em empreendimentos de geração de energia elétrica em três estados brasileiros; sete estão em operação e três em construção. A empresa foi uma das baianas contempladas no leilão de fontes eólicas, realizado em 14 de dezembro de 2009, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. “O nosso grupo assume o compromisso de criar riquezas onde a empresa se estabelece e conta com as autoridades para deixar recursos perenes na região”, diz Sobrinho.

Energia eólica

A Bahia foi beneficiada com 18 projetos no leilão da Aneel, tendo o Governo do Estado assinado protocolo de intenção com as empresas cadastradas, com a finalidade de conceder incentivos fiscais e apoio logístico. Quando se iniciar a fase de operação, os parques eólicos irão acrescentar 390 MW de energia limpa e renovável à oferta estadual de energia elétrica.

A geração de energia limpa no estado está estimulando a implantação de fábricas de aerogeradores, torres e componentes industriais para a nova indústria da energia produzida pelos ventos. Prova disso é a decisão da francesa Alstom de implantar, na Bahia, a sua primeira unidade industrial de turbinas eólicas no Brasil, com prazo de conclusão previsto para o início de 2011.

Festa do Divino é tradição em Brotas de Macaúbas

Pomba do divino, símbolo de devoção secular vinda de Portugal

O tropel dos cavalos desperta a multidão e aumenta a algazarra. À frente, um cavaleiro se destaca vestido de vermelho com uma bandeira igualmente vermelha com uma pomba branca estampada. Atrás, um grande número de homens e mulheres montados a cavalo irrompe pela entrada da cidade ao som de sanfoneiros e sob o espocar de foguetes. A criançada corre de um lado para o outro, a multidão se agita e as palmas celebram um momento mágico – a entrada triunfal do imperador do Divino.
Esse ritual acontece todos os anos, há mais de uma centena de anos, na cidade baiana de Brotas Diamantina, incrustada feito um diamante valioso no coração da Chapada Diamantina (600 quilômetros de Salvador). A Festa do Divino acontece 40 dias depois da Páscoa quando a Igreja Católica celebra o Pentecostes (passagem bíblica que mostra a descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo, levando sabedoria aos apóstolos de Jesus Cristo). Em 2011, a festa do Divino acontece no dia 12 de junho. O imperador será o ex-padre, advogado Edvando Oliveira Santos, sendo capitão do mato o publicitário Artur Henrique Rosa Matos

O imperador puxa a Cavalaria na chegada da Bandeira

Na véspera de Pentecostes, dia de sábado, acontece a Cavalaria – uma tradição introduzida na região de Brotas de Macaúbas por imigrantes portugueses no final do século XVIII. É deles também a Procissão do Mastro (que lembra a trajetória de Jesus a caminho do Calvário) e a Fincada, além do Baile dos Cravos Vermelhos (tradição que começa a desaparecer), que integram o calendário de uma das mais populares festas religiosas do interior do Brasil.
Em Brotas de Macaúbas, onde o sertanejo é simples e sofrido, ainda persistem traços do sotaque português em alguns trechos da Ladainha do Divino que os fiéis – ou não – repetem de casa em casa na visita da Bandeira, e que os brotenses chamam de Esmolas. Esse ritual, cheio de significado e ajuda na integração social entre os moradores, está sendo desvirtuado ultimamente tanto por imposição da Paróquia como pela falta de uma política pública cultural que garanta a tradição.


LADAINHA DAS ESMOLAS



É chegada em vossa casa

Uma formosa bandeira (bis)

E nela vem retratada

Uma pomba verdadeira (bis)

 
Divino Espírito Santo

Em vossa morada entrou (bis)

 Vem correndo a freguesia

Visitando os morador (bis)



É de Deus muito louvada (bis)
São as mesmas três pessoas
Da Santíssima Trindade (bis)


Vem pedindo a sua esmola

Que muito carece dela (bis)

Para serem festejadas

Dentro de sua capela (bis)

Divino Espírito Santo
Dono do Sol que nos cobre (bis)
Ele é dono do tesouro
Pede esmola como pobre (bis)

 
Ele pede é por pedir

Mas não é por carecer (bis)

Pede para experimentar

Quem seu devoto quer ser (bis)

Divino Espírito Santo
Divino consolador (bis)

Consolai as nossas almas

Quando desse mundo for (bis)


Quem se benze com a bandeira
Desse Divino Senhor (bis)
Benze Deus na sua graça
Dentro do seu resplendor (bis)


Quem dá esmola a esse santo

Não repara o que vai dar (bis)

Seja dez reais ou vinte

Fica mil em seu lugar (bis)


Deus lhe pague a esmola

Deus lhe dê muita saúde (bis)

A esmola é caridade

A caridade é virtude (bis)


Deus lhe pague a esmola

Se vos derem com grandeza (bis)

Deus permita que por ela

No reino do céus se veja (bis)

As Esmolas começam a ser “cantadas” desde o mês de março, em plena Quaresma, pois precisa percorrer todas as vilas, distritos, comunidades e lugarejos da Freguesia. O imperador leva a bandeira e o povo o acompanha junto com sanfoneiros. Esse ritual que mistura festa e devoção é motivador da força da fé que vai desaguar na grande manifestação de alegria que a Festa do Divino se reveste.

Orgulhoso por manter viva uma tradição que remonta das Cruzadas – das lutas entre cristãos e mouros -, o povo de Brotas de Macaúbas sabe que foi ali, da pequena vila criada ao redor da Igreja de Nossa Senhora de Brotas, que a devoção ao Divino Espírito Santo se espalhou pelo Brasil afora. Conta-se que desde que a filha de um rico fazendeiro lusitano perdeu a vaquinha de estimação, encontrando-a mais tarde no Boqueirão que dá origem ao povoado, depois vila e sede do município, que o Divino é festejado.


O RUPIADO

Se uma comida pode bem representar a cozinha de Brotas de Macaúbas, está sem dúvida é o Rupiado. O prato típico, iguaria é dos mais populares e serve, principalmente, para curar ressaca. “Levanta defunto da cova”, costumam dizer seus apreciadores. Há muitas quituteiras com a receita na ponta da língua, mas a que damos aqui é da professora Lícia Martins, especialista e PHd em Rupiado.
Essa pomba que aqui vem


Ingredientes

Carne moída
Vinagre
Cebola picadinha
Tempero verde
Tomates aos pedacinhos
Pimentão
Cominho
Sal e pimenta a gosto
Ovos
Farinha de mandioca

MODO DE FAZER

Refogue a carne temperada no sal e no cominho e no vinagre. Adicione a cebola, alho e pimentão. Depois os tomates. Deixe cozinhar com água como se fosse para uma sopa. Adicione os ovos inteiros e deixe cozinhar um pouco. Vá misturando os ovos ao caldo e adicionando a farinha com o tempero verde (salsa, coentro e cebolinha) até formar um angu com a consistência para ser tomada como sopa. A pimenta é o toque opcional.


Brotas possui belos morros com vista panorâmica da cidade

COMO CHEGAR
Chega-se a Brotas de Macaúbas, de Salvador, pegando a BR-116 depois de Feira de Santana até o Posto Paraguaçu, quando se toma a BR-242 (Bahia-Brasília). São 600 quilômetros com direito à paisagem inóspita da caatinga, mas passando por lugares deslumbrantes da Chapada Diamantina, como o Morro do Pai Inácio e a Serra da Mangabeira. Brotas fica 140 depois da cidade de Seabra – 30 quilômetros após da descida da Mangabeira e a perigosa serpente de curvas, se pega a rodovia estadual (42 quilômetros), a partir do Entroncamento (Posto Luisão).

A estrada para Brotas no momento (outubro de 2010) está sendo recuperada e trafega-se com tranqüilidade. Apesar da seca que castiga a região, a paisagem gratifica, descortinando belíssimas serras, culminando com a verdadeira miragem da natureza que é o Vale da Colônia, com suas fazendas de muito verde. A cidade de Brotas de Macaúbas é cercada por morros, estando a 1.184 metros de altitude, o que lhe empresta um clima ameno. De dia o sol é tórrido, mas as noites de inverso são de muito frio mesmo.

Para quem vem de Brasília o caminho para Brotas é inverso, mas atravessa a mesma BR-242, no sentido contrário, passando por Barreiras, atravessando o Rio São Francisco em Ibotirama, de onde segue-se até a entrada da Brotas.

Professora lança-se escritora aos 89 anos

Alessandra Nascimento

A professora aposentada de 89 anos, Alzira Ribeiro do Espírito Santo, mais conhecida como Dona Zizinha, acaba de lançar o livro “De Alzira a Zizinha – Testemunho de verdade e Luta” contando suas memórias. A ideia surgiu após a aposentada que mora no município de Brotas de Macaubas, na Chapada Diamantina, sofrer um derrame cerebral e encontrar na escrita a chave para a cura. “Já ensinei mais de 3 mil alunos na região.


Sempre lutei pela educação e pela qualificação do professor. Fiz parte da equipe de dirigentes municipais de educação que era presidida por Eliana Kertéz nos anos 80 e também participei do 2º Fórum Nacional de Educação com a presença do professor Paulo Freire. Fiz da minha vida uma eterna luta em prol da alfabetização de jovens e adultos no município de Brotas de Macaúbas, aqui na Chapada Diamantina, pois sei que apenas com a educação é possível mudar um país”, revela.

O livro retrata partes da vida da autora que chegou a conviver com o geógrafo Milton Santos, considerado um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. D. Zizinha, como é conhecida a professora na cidade se formou depois de aposentada, em 1979. Nas páginas do livro é possível acompanhar histórias interessantes e inéditas como momentos decisivos da historia do país a exemplo da II Guerra Mundial, nos anos 40, e dos desdobramentos da Ditadura Militar, nos anos 60, com a perseguição ao coronel Carlos Lamarca pelo exército na época da ditadura, nos municípios de Brotas de Macaúbas e Ipupiara.

A escritora também recorda um momento especial quando em 2004 sofreu um derrame. “Foi através da escrita que eu consegui dar a volta por cima. O médico disse que eu precisava fazer exercícios então acompanhei através da televisão programas de receitas como o de Ana Maria Braga, Daniel Bork e Palmirinha Onofre e foi copiando as receitas que consegui melhorar a articulação de minhas mãos, me exercitando. Assim conforme minha caligrafia ia melhorando eu via que estava progredindo”, avisa.

A luta pela educação rendeu a D. Zizinha, em 1959, uma cadeira na Câmara de Vereadores de Brotas de Macaúbas como a vereadora mais votada do município. “Comecei a lecionar em 1935. Tenho a educação como lema de minha vida. Nunca desisti da educação. O único conselho que posso deixar nesta hora é que as pessoas nunca desistam do seu sonho, pois eu sou o grande exemplo disso. Depois de passar por um momento difícil de minha saúde consegui dar a volta por cima e lançar um livro.

Quero pedir a todos os professores que nunca desistam da educação, pois ela é a única arma que temos para mudar a história do nosso país e do nosso povo”, declara.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

URNA É COMO BARRIGA DE MULHER GRÁVIDA

O espaço é aberto para criações literárias (contos, poemas etc). Este conto - de minha autoria - venceu concurso literário promovido pelo governo da Bahia (1981) e também foi publicado no Caderno Literário do jornal A TARDE. Faz parte de um conjunto de histórias que formarão um livro a ser publicado em breve.

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Vamos ao conto: URNA É COMO BARRIGA DE MULHER GRÁVIDA






A notícia
Sentada em sua cadeira de todos os dias, Dona Cezinha Batista atendia ao pequeno número de freqüentadores da agência dos Correios e Telégrafos de Palmeiral. Acordava cedo, é verdade. Fazia o café do Dr. Batista, seu marido, e regava as plantas. Tinha tempo especialmente para isso, sua distração - talvez a única da vida. Era veloz no andar e no serviço. E ainda concluía o curso Normal, à noite.

Às oito em ponto, Dona Cezinha Batista chegava aos Correios, onde era a única funcionária, além do velho guarda-fios, Seu Deco, e do carteiro Antunin. Ela abria as portas, limpava a mesa, dava uma geral na sala e atendia ao telefone. Palmeiral não tinha Morse. Essa, uma antiga reivindicação de Dona Cezinha. Não pela modernidade do aparelho, mas, e principalmente, pelo charme da palavra, e pelo segredo na hora de passar as mensagens telegráficas.

- Alô, Ipupiara! Bom dia, Oscar. Como está o tempo aí?

Em poucos minutos, sabia as novidades da cidade vizinha e contava as da sua. Mas era só para iniciar a conversa com o colega do outro lado da linha. Rápida e claramente, repetia as palavras do telegrama com destino à capital. Era telegrama político. Os ânimos estavam quentes em Palmeiral com a vizinhança das eleições. Como sempre, o MDB local prometia revanche. Ficava só na promessa. A Arena sempre ganhava com largura as disputas de prefeito, vereador, deputado e senador. Isso sem contar que, com as indicações biônicas do alto escalão do governo, era a Arena quem faturava tudo. O telegrama que Dona Cezinha passava, caprichando na pronúncia dos esses e erres, ia de Thomé Ludovico, presidente do diretório do MDB local, para o deputado João Borges de Figueiredo, figura impoluta da oposição baiana e patrono de quase todas as obras realizadas no município antes do golpe militar de 1964, que alijou boa parte dos bons brasileiros da política. O telegrama relatava as esperanças do partido da oposição, segundo dizia, franco favorito nas eleições daquele ano.

Dona Cezinha Batista ditou as palavras e arriscou um comentário. Só arriscou. Ela era, reconhecidamente, neutra em política.

- Este ano o negócio é quente. Ernesto Vidigal está apavorado com a campanha emedebista.

Calmo e apático, do outro lado da linha, Oscar retrucava, taciturno, a ladainha de todas as horas.

- É. Pois bem.

Os oposicionistas
Os ânimos estavam, de fato, acalorados em Palmeiral, uma cidadezinha perdida nos confins da Chapada Diamantina. O sol, a pino, fritava o juízo das pessoas que participavam da feira em torno do Mercado Municipal, na Praça da Matriz. O sábado trouxe à cidade gente de todos os distritos, vilas e povoados. A casa de Thomé Ludovico, apinhada de mateiros: vendedores de feijão, do Araci; de farinha, da Colônia; de laranja, do Pé-do-Morro; de panelas de barro, do Barreiro Preto; de ovos, da Feira Nova... A conversa, uma só: política. De Ouricuri do Ouro vinha a adesão de Mané Teotônio, ferrenho adversário da oposição em campanhas anteriores, mas que bandeara-se de mala, cuia e votos para os lados do MDB. Na sala da frente da casa, situada na parte alta da rua, quase defronte da igreja, Thomé Ludovico batia todos os dedos de prosa com Betinho Viana, o eterno candidato a prefeito. Dona Cidália, a mulher de Thomé, servia, como sempre, enraivada, cafezinho e tira-gosto - um mexido de carne de bode cozida, passada na farinha com cebola frita na gordura - aos ‘homens-do-mato’, como ela sempre chamava o eleitorado do marido. Mesmo com raiva, servia diligente, auxiliada por um sem-número de ajudantes. Às vezes, resmungava baixinho.

- Nojentos! Sujam todo o meu tapete.

Cigarro pendurado no queixo, soltando largas baforadas, Betinho Viana, ao que parece, pouco se importava com as queimadas que dava na camisa com as cinzas mal apagadas, caídas do forte cigarro de fumo cortado e enrolado na palha. Prestava mais atenção ao assunto do momento, o seu preferido, e que era muito mais importante - a política.

- As ameaças dos Vidigal vão sair pela culatra. Desta vez o povo está conosco, Thomé. É batata!

Thomé Ludovico, camisa mal enfiada nas frouxas calças de linho branco, chapéu de feltro escuro e sapatos muito bem engraxados - um lorde. A personificação do entusiasmo que varria a campanha emedebista. Ele tinha um ‘explicatório’ para essa performance. Conivente em outras apurações, o juiz gaúcho tinha acabado de ser transferido para outra comarca.

- Vai fazer marmelada no raio que o parta! Este ano as coisas serão muito, muitíssimo diferentes!

Thomé Ludovico falava e se exaltava, e Betinho Viana incensava a conversa com a fumaça do cigarro forte, como sempre.

- É tiro e queda. Nesta campanha, conseguimos sensibilizar o eleitorado. Tá pensando o quê? Eleitor de cabresto é coisa de outro tempo. O coronel Valeriano Vidigal já morreu faz tempo, e que o diabo o tenha muito bem quieto.

Thomé Ludovico improvisava o discurso, mesmo fazendo espuma pelos cantos da boca e tendo que tapá-la com a mão para não chover cuspe sobre a platéia. Os ‘homens-do-mato’ o cercavam-no e a prosa ganhava ares de comício. A vitória de Betinho Viana e da oposição, dali a duas semanas, essa ninguém tirava do papo de Thomé.


A madrinha
Do outro lado da cidade, o casarão de Ernesto Vidigal, majestoso e bem caiado. Mesa farta e móveis ‘trazidos da Bahia’, como sempre repetia onde quer que estivesse e o assunto fosse o belo mobiliário de jacarandá, herança da família. Na casa dos Vidigal, como em qualquer outra casa de Palmeiral, o clima não podia ser diferente. Novamente candidato a prefeito pelo partido da ‘gloriosa’ Aliança Renovadora Nacional, a Arena do governo e dos militares do golpe de 64, Vidigal contava na ponta do lápis os prováveis votos que teria. Seria uma grande vitória.

- Uns quinhentos na frente daquele aprendiz de político.

Ernesto Vidigal jogava para a platéia e repetia que os ‘adversários de pátria’ não perdiam por esperar. Nôzinho da Farmácia, esse sim, ia pagar caro pela desfaçatez de mudar de lado. Ficaria a pão e água e não venderia um mísero Melhoral que fosse se dependesse de pedido da prefeitura.

Dentro do vestido cor-de-rosa, Dona Vivinha Vidigal recebia, na sala ao lado, as representantes da Liga Palmeirense do Bem-Estar do Menor Abandonado. Sob seu comando, a Liga tinha realizado obras assistenciais por todo o município. Num raio de quarenta e tantos lugarejos, não ficara um cafundó sequer sem os benefícios da entidade. As chances, portanto, eram ótimas. Principalmente para ela, candidata a ser a mais votada para a Câmara Municipal, que presidiria, com certeza. Esse, o primeiro passo para vôos maiores. Disputar o pleito de deputada estadual, quiçá o de federal, era seu objetivo, que escondia até mesmo do marido. Representando a mulher palmeirense, Dona Vivinha sonhava com ‘ganhas fáceis’ na competição de dali a 15 dias. Os mais de 200 afilhados, compadres e comadres que tinha já eram uma garantia para levá-la a essa primeira vitória.

Estavam nesse trelelê quando um grupo chefiado por Oscarlito Pedrosa, contumaz presidente da Câmara, chegou com muito alarido na casa dos Vidigal. Ele trazia novas animadoras. Apesar da dissidência de Mané Teotônio, de Ouricuri do Ouro, em Novo Horizonte a urna viria fechada para os arenistas. Apenas em Buriti Cristalino o eleitorado continuava indeciso. Em Cocal, a inauguração da água encanada, e a luz em Feira Nova - serviços feitos às pressas - calaram os mais revoltados com a administração do prefeito atual, Jurandy Lourenço, um pau-mandado de Ernesto Vidigal que, apesar dos conselhos do líder e chefe, andara dando suas cabeçadas e, por isso mesmo, encontrava-se afastado, estrategicamente, da campanha. Essas obras com cores e cheiros eminentemente eleitoreiros iam garantir os votos. O eleitorado votaria em massa no candidato Vidigal.

- Os modebas desta vez não vêem nem o cheiro da ‘Madrinha’.

Garantia Zequinha Gonzaga, outro correligionário governista, referindo-se como ‘Madrinha’ à prefeitura municipal, há muito precisando de um banho de loja, pois estava com pintura gasta, os passeios estragados pela chuva, uma lástima.


A campanha
Na feira de Palmeiral o assunto eleições ganhava formas e versões as mais

diversas, a depender de quem contava as notícias e de quem fazia as

especulações. Se arenista, já sabe, a vitória de Ernesto Vidigal era barbada. Na

boca dos ‘modebas’, corria fácil o apoio de Mané Teotônio, os comícios da

última semana, os discursos de Onofre Sapucaia, coletor aposentado e muito

respeitado na região. Cada qual puxava a brasa para a sardinha do seu

interesse.

De fato, os últimos comícios do MDB mostravam claramente o favoritismo

de Betinho Viana. Nunca Palmeiral havia testemunhado tamanha demonstração

de força da oposição. Desde os tempos do Partido Libertador, do finado

Osmundo Lemos, que os oposicionistas não mostravam tanto vigor eleitoral. Até

o antigo animador de campanhas arenistas, Venâncio do Saxofone, achara-se

de se indispor com Ernesto Vidigal - questões de aforamento. E bandeara-se

com instrumento e arte para as hostes adversárias. E tome-lhe toque! Em cada

canto, os acordes musicais de Venâncio e os discursos de Onofre Sapucaia

incendiavam o povo. Tanto em Lagoa de Dentro, como na Barrinha e em Alvorada, a retórica do orador levara a platéia às lágrimas, apesar de muito

pouca gente ter entendido o discurso.

- Palmeiral periclita, virtude intemperância alcoólica do prefeito, que nada

manda, só desmanda. Precisamos acabar de uma vez por todas com essa

situação etílico-insustentável. É um preço alto que estamos pagando, pelo erro

de um dia, que resultou nesse prefeito imposto por um juiz ladrão e conivente.

Mas o povo vai dar um basta. E será uma grande vitória. Quando elegermos

Betinho Viana nós nos sentiremos tão jubilosos e ledos que os nossos corações

serão arrebatados de alegria.

Nem as moças de família que enchiam os caminhões dos comícios

entendiam o significado de tão elevadas palavras. Mas a campanha seguia

firme, varando o município de cabo a rabo. Era bonito de ver. Corriam, como

sempre, os tradicionais fuxicos e disse-me-disse. Falavam horrores das filhas

de Joaquim de Anita. Tudo língua grande.

- Filoca, Tetê e Carmosina eram lá moças de se embeiçar com qualquer um?

E os comícios desciam e subiam. Espalhavam os ventos de mudança em

todos os buracos do mundo em Palmeiral. Apesar da tranqüilidade, muitas

desfeitas, de lado a lado, se repetiam. Na Mata do Bom Jesus jogaram borra de

café e areia em Betinho Viana. Em Ouricuri o comício de Ernesto Vidigal não

conseguiu sequer passar pelo distrito - os moradores fizeram uma barricada de

pedras e os carros tiveram de bater em retirada. Que fosse para a Lagoa

Nova. Em Ouricuri, Vidigal e seu bando de puxa-sacos não passavam,

garantindo a promessa de Mané Teotônio.

Na cidade não falhava uma única casa onde não se conversasse sobre a

campanha. Com exceção, é claro, da casa da telegrafista, Dona Cezinha

Batista, apesar da preferência do marido, o Dr. Batista, pelo emedebistas. Os

prognósticos, os mais variados. No Bar Samburá, de Otacílio de Ninga, o

proprietário do ‘estabelecimento sócio cultural e recreativo’, como definia a

espelunca, as apostas se multiplicavam. Estranha era a ausência de brigas como

as de outras querelas politiqueiras. Só uma ou outra pirraça. Como as que

acompanhavam Thomé Ludovico quando passava pela tradicional Rua do Bar.

- Modeba sem leitura! Heim, Tumezim Modeba?

Gritavam os moleques pagos por algum despeitado. O apelido atazanava o

juízo do homem, que ficava tiririca e a ponto de bala, mas não reagia, apenas

repetia:

- Os moleques e despeitados ladram, mas as urnas chegarão recheadas de

votos.

Afora esse tipo de incidente, nada de mais grave acontecia em Palmeiral. Só

as apostas cresciam. Zeca Paixão, o eletricista, empenhou inclusive o

inseparável radinho de pilha, de onde acompanhava as vitórias do seu timaço, o

Botafogo Futebol e Regatas, de Garrincha e Nilton Santos. Zeca também

apostou as galinhas, a mesa, as cadeiras e até o pote d’água. Era um ‘modeba

tinindo’. E não adiantavam os conselhos de Dona Zilu, a sogra, nem de

Filomena, a mulher, que sempre dizia:

- Zeca, tu vais ficar de tanga e chapéu de gazeta.

Ele, nem tchum! Não arredava o pé. As apostas tinham sido juradas e

sacramentadas.

- Palavra dos Paixão não volta atrás.

Isso Zeca Paixão garantia. Principalmente porque tinha como certa a vitória

de Betinho Viana, seu candidato. Ele, um Zeca farejador de primeira. E se

garantia...

- Está garantido e ponto final.


A eleição
Paimeiral passou seus 15 dias mais demorados da história. Mas, finalmente,

o dia 15 de novembro chegou. Diga-se, com justeza, realizando eleições

ordeiras como nunca. Apenas um pequeno atrito, logo após a chegada da

derradeira urna, do Santo André. Na porta da agência dos Correios e

Telégrafos, onde as urnas ficariam por dois dias aguardando a chegada do juiz

substituto, vidigalistas e modebas mais exaltados chegaram a ensaiar um bate-

boca, interrompido pela providencial interferência de Dona Cezinha Batista.

- Onde já se viu. Brigar por tão pouco! Os palmeirenses tinham que

confirmar e referendar o patriotismo com que realizaram o pleito. Um exemplo

para as cidades vizinhas, quiçá para a capital do estado. O governo ficará

satisfeito. E, o mais importante: terminada a campanha, voto na urna, todos têm

que se irmanar e formar uma única família, para a glória de nossa terra, e sob as

bênçãos do Divino Espírito Santo.

- Dona Cezinha! Dona Cezinha! Dona Cezinha!

Os gritos do povo fizeram eco na Pedra do Urubu e nos outros morros que

cercavam a cidade. E uma calorosa salva de palmas para a oradora

desmanchou o bate-boca. Palmeiral pôde voltar à normalidade, se é que

podemos chamar o clima de expectativa e aflição para os dois lados em

disputa de coisa normal. O novo juiz chegaria de Macaúbas em 48 horas.

Tempo suficiente para esquentar boatos cabeludos. Um deles falava no

caminhão de enxadas e nos 40 milhões em dinheiro, vindos da capital, para

ajudar Ernesto Vidigal. Essa conversa bulia no juízo de Thomé Ludovico. O

‘trombone’ corria solto. E foi com esse clima que, enfim, o Dr. Aristodemo

Belmonte de Santa Rosa desembarcou em Palmeiral. A apuração começaria

logo na manhã seguinte.




A apuração
Foi um alvoroço. A Palmeiral apinhou-se de gente, e as pensões Flor do

Sertão e Santa Bernadete, lotadas. No salão nobre da prefeitura municipal,

onde funcionava a Justiça, o aparato fazia jus ao acontecimento. Às oito em

ponto, dia 18 de novembro, foi aberta a primeira urna. Da sede. Contados os

votos, o candidato do MDB confirmava o favoritismo - 17 de frente. Bela

largada, fazendo a cidade explodir. Foguetes espocavam na porta do

Mercado, em frente à Igreja de Nossa Senhora de Brotas, no Boqueirão, na

Rua Nova, no Tanque e até na Capelinha.

Thomé Ludovico, de caneta e papel nas mãos, anotava pacientemente os

resultados. Tintim por tintim. Não havia mais dúvidas: Betinho Viana seria

vitorioso. É claro, com a ajuda de Santo Antônio - adiantaram as novenas de

Dona Cidália, sua mulher. O recinto da apuração fervilhava. Gente por todos

os lados. Precisou ser evacuado pelo menos umas cinco vezes. Voto a voto, a

vantagem de Betinho Viana aumentava. As urnas consideradas favoráveis a

Ernesto Vidigal contra-atacavam, mas nada. Viana seguia, impávido, na frente.

De um lado da sala, descansando seus 112 quilos numa cadeira preguiçosa

mandada vir especialmente para o ocasião, Ernesto Vidigal não perdia a pose,

apesar do suor que lhe caía fartamente do rosto. Impávido, pouco se importava

com os primeiros resultados. Seus currais eleitorais não falhariam. Tinha

certeza. Essa tranqüilidade só foi quebrada quando Valdivino Miranda, um

desses ‘carrapatos’ que não desgrudava do seu pé, inquiriu o juiz por causa

‘desse tal de idem, que não é candidato de ninguém’. Vidigal mostrava-se

calmo, muito diferente de Oscarlito Pedrosa, seu mais importante aliado. De

seu canto, Pedrosa destruía as unhas com os dentes. Era todo preocupação. A

frente inesperada de Betinho Viana em seu reduto, o Buriti, fazia-o tremer de

ódio. Beto Santana, do açougue, pagaria caro. Ah, se pagaria! Ele ia ver como

desaforo custa caro.

Dona Vivinha Vidigal também acompanhava com atenção felina a contagem

dos votos. Estava com a eleição de vereadora garantida. Os benefícios da Liga

Palmeirense de Assistência Social e os cerca de 200 afilhados tinham gerado

dezenas e dezenas de votos. Ela seria a mais votada para a Câmara. Os

olhinhos apertados na cara miúda e rechonchuda reluziam. Dona Vivinha

descansava a mão direita sobre o ombro esquerdo de Ernesto Vidigal, mas o

olhar não perdia um movimento sequer na mesa de apuração. Vez por outra

deixava escapar um suspiro, e como esses vinham como minutos marcados,

incomodavam o marido, que a recriminava com o olhar.

Betinho Viana seguia a contagem dos votos do lado de fora, pois não

conseguia se separar do velho cigarro de guerra que lhe queimava a camisa. Ele

pouco se dava conta desse bordado a fogo que, a toda hora, lhe pinicava o

peito. Sua vitória, iminente, era o mais importante. A cada nova urna aberta

mais votos iam se somando à sua frente. Trinta e cinco urnas apuradas no

primeiro dia. Na casa dos 147 os votos de vantagem. Uma diferença

histórica, que fazia o candidato oposicionista pensar com os próprios botões: o

jornal A Tarde dará em manchete. O caso merecia o destaque. Pela primeira

vez, desde a criação do MDB, o partido nunca havia vencido numa pequena

cidade do sertão da Bahia.

Às duas da madrugada, o juiz deu por encerrada a contagem por aquele dia.

Retornaria à maratona na manhã seguinte. Betinho Viana ia dormir com uma

frente de 147 votos sobre Ernesto Vidigal. O galo cantava nalgum terreiro e

Palmeiral foi dormir excitada. Menos o bar de Otacílio de Nenga, que

fervilhava. E quem dormiria tranqüilamente naquela madrugada? Somente

Dona Cezinha Batista, a imparcial telegrafista. No mais, o clima era de vigília e

expectativa.

Em sua casa, Ernesto Vidigal abandonava o ar imponente que mantinha em

público. Numa reunião às pressas convocou a cúpula do partido a quem

desabafou sua ira. A saliva jorrava farta pelos cantos da boca. Era sempre

assim quando ficava nervoso e exaltado. Oscarlito Pedrosa era o alvo preferido.

- Incompetente! Como não conseguiu mudar os votos em Buriti? É pequena,

mas derrota.

Isso Vidigal não perdoava.

No bar Samburá, os partidários de Betinho Viana comemoravam. Garrafas e

mais garrafas da boa pinga de Lelé eram consumidas. Algazarra geral. Nem os

pedidos de Dona Filomena, a mulher de Otacílio, tiveram efeito. Ali, todo

mundo falava ao mesmo tempo numa confusão que envolveu até os mais

precavidos, com medo de uma reviravolta. Afinal, a urna de Feira Nova,

tradicional reduto arenista, não tinha sido aberta.

- Pode haver uma virada, Thomé. Urna é como barriga de mulher grávida. Só

se sabe o que tem dentro depois de parida.

O argumento de Chico Barbeiro pouco interessava a Thomé Ludovico. Desta

vez, acreditava, não tinha doutor para dar jeito. O mal era sem cura para

Vidigal e sua tropa. Finalmente as urnas lhe concediam a revanche, e o partido

da oposição não ficaria mais na bagagem.

Modeba, pensava Thomé com o que restava dos cabelos brancos, tão ralos

que mais pareciam uma penugem a cobrir-lhe a reluzente careca. Não o

chamariam mais de Modeba. Movimento Brasileiro Democrático. Isto sim.

Estava até pensando em propor a mudança da sigla do partido. MDV -

Movimento Democrático Vitorioso! Vitorioso. Claro, sairá vitorioso. Assim,

Thomé Ludovico não seria mais chamado ‘Modeba Sem Leitura’. Seria

respeitado. Thomé Ludovico. Tinha Nome. Herdara-o do avô, homem honesto

e ganhador de eleições...


O resultado
O sol mal havia despontado em Palmeiral e as ruas já regurgitavam de gente.

Nenzinha de Filó já tinha ido ao Boqueirão, lavado a roupa, e vinha areão

abaixo com a trouxa na cabeça. Tudo para não perder o reinício da apuração.

Joana Candira já estava com a galinha caipira, para o pirão de parida que o

patrão adorava. Também adiantava o feijão gurutuba e o arroz que seriam

servidos na casa de Betinho Viana. Como Nenzinha e Joana, todo mundo

madrugou para adiantar o que podia, antes do juiz começar a contar os últimos

votos.

Às oito em ponto, o Dr. Aristodemo Belmonte de Santa Rosa reiniciou a

apuração. Poucas urnas faltavam ser abertas, onze ao todo. Ele esperarava

concluir os trabalhos até o meio-dia, se possível. Vidigal retomou seu posto de

observação, agora sem a companhia de Dona Vivinha que preferiu ficar,

discretamente, do outro lado da sala. Oscarlito Pedrosa tinha ficado em casa,

com medo do resultado. Thomé Ludovico e Betinho Viana, mesmo de ressaca

pela comemoração antecipada, também mantinham-se a postos. Seguiram

atentamente a contagem dos quarenta e quatro votos de frente para Vidigal na

urna da Nova Vista, a primeira a ser aberta naquela manhã. A redução para

cento e três votos na diferença deu alma nova aos boatos do caminhão de

enxada, dos quarenta milhões vindos da capital. Ernesto Vidigal reassumiu a

pose, cedendo a preocupação para seu maior desafeto, Thomé Ludovico. Nas

dez urnas restantes ainda estavam as de Feira Nova e Cocal, currais vidigalistas

de todos os costados.

Em poucos minutos a notícia se espalhou e o recinto da apuração apertou

ainda mais. Oscarlito Pedrosa chegou ofegante, ainda enfiando a camisa na

calça e com o cabelo todo assanhado. A contagem prosseguiu. A frente do

MDB ia minguando, o que enlouquecia a cabeça de Thomé Ludovico, agora de

pé, quase por cima dos mesários. Faltando três urnas, a frente de Betinho Viana

foi reduzida para apenas 19 votos. Vermelho como xixá, Betinho Viana

levantou-se da cadeira e acendeu o cigarro de palha. A camisa toda esburacada

e a fumaça incomodando a todo mundo. Mas ninguém se atreveu a reclamar.

Ouricuri reforçou a diferença pró MDB - oitenta e nove agora. Novas

esperanças. Saudável quase anula a vantagem - somente seis votos de frente. E

restava uma única urna, da sede, exatamente aquela onde Thomé Ludovico e

sua mulher, Dona Cidália, haviam votado. Esperanças e preocupações dos dois

lados. Urna aberta, respirações suspensas. Contados e recontados os votos -

sete de frente. Para Ernesto Vidigal. Vitória da Arena. Por um voto de

diferença. Um só.

A cidade, ou pelo menos o lado que se manteve fiel a Vidigal, de novo

prefeito, explodiu em festa. A passeata dos arenistas levou Vidigal nas costas.

Delírio da puxassacada. Dona Vivinha, a mais votada para vereadora, na frente.

Oscarlito Pedrosa, a seu lado. As mulheres da Liga Palmeirense do Bem-Estar

do Menor Abandonado carregavam uma grande faixa improvisada com quatro

metros de morim...


‘Modeba sem leitura’
Cabisbaixo, Thomé Ludovico chegou em casa a passos apressados. Entrou,

olhou para os lados à procura de Dona Cidália. Do lado do fogão de lenha, a

mulher chorava, o que preocupou Thomé. Afinal, ela não se importava muito

com política, não estava descascando cebola. Chegou mais perto, abraçou a

companheira de tantas lutas e arriscou um consolo.

- O que é que há, mulher! Perdemos uma batalha, mas não perdemos a

guerra.

Dona Cidália soluçou, sem nada responder. Thomé bem que notara a tristeza

dela desde o dia das eleições. Tivera pouco tempo para saber o porquê de

tanta tristeza. É que ele não podia imaginar que Dona Cidália, a quem ele tanto

se esforçara para ensinar como votar, tinha virado a cédula eleitoral de cabeça

para baixo e deitado o risco no quadradinho ao lado do nome de Ernesto

Vidigal. Isso, ele não ia entender nunca.

Do outro lado da rua a passeata da Arena desfilava festiva. Um moleque

olhou Thomé Ludovico pela janela e arriscou a sentença.

- Mais uma, heim, ‘Modeba Sem Leitura’!

Povo decide ente Serra e Dilma

Domingo, 31 - triste ironia, dia das bruxas. Mas o povo nem sabe o que é cultura americana e ignora as aleivosias da data, escolhendo o futuro do Brasil: se continua vermelho e petista com Dilma Roussef ou se muda para o grão tucano José Serra. Bom voto a todos os brasileiros e brasileiras!