Pomba do divino, símbolo de devoção secular vinda de Portugal
Esse ritual acontece todos os anos, há mais de uma centena de anos, na cidade baiana de Brotas Diamantina, incrustada feito um diamante valioso no coração da Chapada Diamantina (600 quilômetros de Salvador). A Festa do Divino acontece 40 dias depois da Páscoa quando a Igreja Católica celebra o Pentecostes (passagem bíblica que mostra a descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo, levando sabedoria aos apóstolos de Jesus Cristo). Em 2011, a festa do Divino acontece no dia 12 de junho. O imperador será o ex-padre, advogado Edvando Oliveira Santos, sendo capitão do mato o publicitário Artur Henrique Rosa Matos
O imperador puxa a Cavalaria na chegada da Bandeira
Em Brotas de Macaúbas, onde o sertanejo é simples e sofrido, ainda persistem traços do sotaque português em alguns trechos da Ladainha do Divino que os fiéis – ou não – repetem de casa em casa na visita da Bandeira, e que os brotenses chamam de Esmolas. Esse ritual, cheio de significado e ajuda na integração social entre os moradores, está sendo desvirtuado ultimamente tanto por imposição da Paróquia como pela falta de uma política pública cultural que garanta a tradição.
LADAINHA DAS ESMOLAS
É chegada em vossa casa
Uma formosa bandeira (bis)
E nela vem retratada
Uma pomba verdadeira (bis)
Divino Espírito Santo
Em vossa morada entrou (bis)
Vem correndo a freguesia
Visitando os morador (bis)
É de Deus muito louvada (bis)
São as mesmas três pessoas
Da Santíssima Trindade (bis)
Vem pedindo a sua esmola
Que muito carece dela (bis)
Para serem festejadas
Dentro de sua capela (bis)
Divino Espírito Santo
Dono do Sol que nos cobre (bis)
Ele é dono do tesouro
Pede esmola como pobre (bis)
Ele pede é por pedir
Mas não é por carecer (bis)
Pede para experimentar
Quem seu devoto quer ser (bis)
Divino Espírito Santo
Divino consolador (bis)
Consolai as nossas almas
Quando desse mundo for (bis)
Quem se benze com a bandeira
Desse Divino Senhor (bis)
Benze Deus na sua graça
Dentro do seu resplendor (bis)
Quem dá esmola a esse santo
Não repara o que vai dar (bis)
Seja dez reais ou vinte
Fica mil em seu lugar (bis)
Deus lhe pague a esmola
Deus lhe dê muita saúde (bis)
A esmola é caridade
A caridade é virtude (bis)
Deus lhe pague a esmola
Se vos derem com grandeza (bis)
Deus permita que por ela
No reino do céus se veja (bis)
As Esmolas começam a ser “cantadas” desde o mês de março, em plena Quaresma, pois precisa percorrer todas as vilas, distritos, comunidades e lugarejos da Freguesia. O imperador leva a bandeira e o povo o acompanha junto com sanfoneiros. Esse ritual que mistura festa e devoção é motivador da força da fé que vai desaguar na grande manifestação de alegria que a Festa do Divino se reveste.
Orgulhoso por manter viva uma tradição que remonta das Cruzadas – das lutas entre cristãos e mouros -, o povo de Brotas de Macaúbas sabe que foi ali, da pequena vila criada ao redor da Igreja de Nossa Senhora de Brotas, que a devoção ao Divino Espírito Santo se espalhou pelo Brasil afora. Conta-se que desde que a filha de um rico fazendeiro lusitano perdeu a vaquinha de estimação, encontrando-a mais tarde no Boqueirão que dá origem ao povoado, depois vila e sede do município, que o Divino é festejado.
O RUPIADO
Se uma comida pode bem representar a cozinha de Brotas de Macaúbas, está sem dúvida é o Rupiado. O prato típico, iguaria é dos mais populares e serve, principalmente, para curar ressaca. “Levanta defunto da cova”, costumam dizer seus apreciadores. Há muitas quituteiras com a receita na ponta da língua, mas a que damos aqui é da professora Lícia Martins, especialista e PHd em Rupiado.Essa pomba que aqui vem
Ingredientes
Carne moída
Vinagre
Cebola picadinha
Tempero verde
Tomates aos pedacinhos
Pimentão
Cominho
Sal e pimenta a gosto
Ovos
Farinha de mandioca
MODO DE FAZER
Refogue a carne temperada no sal e no cominho e no vinagre. Adicione a cebola, alho e pimentão. Depois os tomates. Deixe cozinhar com água como se fosse para uma sopa. Adicione os ovos inteiros e deixe cozinhar um pouco. Vá misturando os ovos ao caldo e adicionando a farinha com o tempero verde (salsa, coentro e cebolinha) até formar um angu com a consistência para ser tomada como sopa. A pimenta é o toque opcional.
Brotas possui belos morros com vista panorâmica da cidade
COMO CHEGAR
Chega-se a Brotas de Macaúbas, de Salvador, pegando a BR-116 depois de Feira de Santana até o Posto Paraguaçu, quando se toma a BR-242 (Bahia-Brasília). São 600 quilômetros com direito à paisagem inóspita da caatinga, mas passando por lugares deslumbrantes da Chapada Diamantina, como o Morro do Pai Inácio e a Serra da Mangabeira. Brotas fica 140 depois da cidade de Seabra – 30 quilômetros após da descida da Mangabeira e a perigosa serpente de curvas, se pega a rodovia estadual (42 quilômetros), a partir do Entroncamento (Posto Luisão).
A estrada para Brotas no momento (outubro de 2010) está sendo recuperada e trafega-se com tranqüilidade. Apesar da seca que castiga a região, a paisagem gratifica, descortinando belíssimas serras, culminando com a verdadeira miragem da natureza que é o Vale da Colônia, com suas fazendas de muito verde. A cidade de Brotas de Macaúbas é cercada por morros, estando a 1.184 metros de altitude, o que lhe empresta um clima ameno. De dia o sol é tórrido, mas as noites de inverso são de muito frio mesmo.
Para quem vem de Brasília o caminho para Brotas é inverso, mas atravessa a mesma BR-242, no sentido contrário, passando por Barreiras, atravessando o Rio São Francisco em Ibotirama, de onde segue-se até a entrada da Brotas.
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