Depois
de uma luta de mais de dez
anos, quando questionamos na imprensa, em blogs e até mesmo junto à
Câmara Municipal sobre o erro histórico na data de emancipação política
do nosso município, eis
que finalmente a Câmara de Vereadores aprecia o projeto de lei enviado
pelo Poder Executivo, fixando o dia 16 de julho de 1878 como a
verdadeira
e única data natalícia de Brotas de Macaúbas.
O
dia de 30 de
março de 1938 como data da emancipação política foi fixado de forma
errônea e equivocada pela Lei Orgânica do Município, que finalmente
agora será corrigido em
definitivo.
Uma cidade e um município sem
história é algo terrível. Brotas de Macaúbas com 139 anos de emancipação,
assegurada por lei imperial é um dos mais antigos municípios do estado da Bahia
e não pode, de maneira alguma, viver esse retrocesso histórico.
Para celebrar o restabelecimento
da data de emancipação política, que retorna ao tradicional 16 de julho, fizemos um resumo
da nossa grande história de lutas que pode ser usado como instrumento para
assegurar a nossa cidadania através do resgate histórico. É o que você verá a seguir. Boa leitura e vamos
juntos construir a nossa história.
Rosalvo Martins Júnior, jornalista
BROTAS
AMADA
139
anos – 1878-2017
Brotas de Macaúbas, 2017
Direitos reservados
ROSALVO MARTINS JÚNIOR
Fotos do arquivo da família e/ou cedidas pela
comunidade de Brotas de Macaúbas
* Todos os direitos reservados. A reprodução não
autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja ele total ou parcial,
constitui violação da Lei n° 5.988
Brotas de
Macaúbas é uma das mais antigas cidades da Bahia. Nasceu da procura dos
garimpeiros pelos diamantes e o ouro, abundantes em nosso território. São mais
de 200 anos de existência, desde a chegada dos primeiros habitantes, com a
descoberta da fonte de água no Boqueirão.
Elevado à
condição de município em 16 de julho de 1878, o município enfrentou guerras e
muitas secas, mas sempre manteve-se fiel às suas mais ricas tradições cristãs.
A “terra
dos doutores” é a capital do Divino Espírito Santo e marca na história da Bahia
e do Brasil com importantes acontecimentos ao longo de 139 de emancipação
política.
Esta é a
história que você, brotense, conhecer nesta publicação nascida da luta de seus
filhos para preservar o nosso rico legado.
Os
primeiros moradores em Brotas de Macaúbas foram os índios. A maior nação
indígena brotense era conhecida como Tapuia. Vivia da caça e da pesca até a
chegada dos primeiros brancos – garimpeiros de origem portuguesa vindos de
Minas Gerais, principalmente, no final do século XVII.
O
choque de culturas foi muito grande. Os índios resistiram, mas os brancos mais
fortes e armados conseguiram dizimar a cultura indígena em nossa região.
A
presença desses primeiros brotenses, no entanto, persiste nas pinturas
rupestres deixadas em grutas e grandes pedras que podem ser estudadas em diversos
pontos de nosso município. Muitas famílias brotenses mantêm até hoje os traços
indígenas e muitos costumes – o de fazer beiju de massa e farinha, por exemplo.
Hoje
não existem famílias exclusivamente branco-portuguesas, nem tampouco
genuinamente indígenas, formadas unicamente por descendentes desses índios
primitivos e pioneiros exploradores. Há a mistura do índio com o branco e
também com o negro, vindo feito escravo, e com os filhos destes.
Uma
gente que conserva na cor da pele, no cabelo, nos traços fisionômicos e na
cultura a origem do que podemos chamar a alma brotense.
CORRIDA DO OURO
Só o
brilho do ouro e dos diamantes, fartos em nossa região, para atrair garimpeiros
vindos do Grão Mongol e do Tijuco, em Minas Gerais. Vieram também desbravadores
portugueses, seguidos por comerciantes turcos e judeus e os escravos negros. O
choque com os índios nativos foi inevitável e o genocídio indígena marcou de
sangue o chão brotense nesse confronto desigual. A mistura desses povos gerou
uma gente mestiça e destemida que iria se juntar mais tarde num grande exército
às lutas travadas para garantir a autonomia municipal.
A
história de Brotas de Macaúbas é marcada pela valentia desses filhos de
portugueses, negros, índios, árabes e judeus. Aqui eles forjaram uma
civilização ímpar, onde o diamante e o ouro dos primeiros dias foram sendo
substituídos pela força da inteligência e pela cultura da fé e da paz. Essas
são as marcas da “Terra dos Doutores”, nascida sob o signo do milagre de Nossa
Senhora de Brotas e do surgimento da capela em devoção à santa que deu origem à
povoação, que se fez vila e depois cidade.
O PRIMEIRO DIAMANTE
Brotas
de Macaúbas desponta na Chapada Diamantina como o local onde, em 1842, foi
encontrado o primeiro diamante da região – no local onde mais tarde surgiu a
antiga vila de Chapada Velha. Foi no garimpo de José Pereira de Matos (também
conhecido como Seu Quincas, avó do coronel Horácio de Matos, que viria a ser
intendente. Seu Quincas veio do Grão Mongol, Minas Gerais, desembarcando em
terras baianas pelo Rio São Francisco em dezembro de 1839, entrando mato
adentro com a coragem de um guerreiro. A descoberta de tão cobiçada pedra
preciosa desencadeou a grande corrida de garimpeiros, aventureiros e jagunços e
toda ordem de gente para as Lavras Diamantinas. Bambúrrios e infortúnios se sucederam numa desenfreada luta de
coronéis, manchando o solo árido de muito sangue.
CAYAM-BOLA
E ROMÃO GRAMACHO
Contam os mais antigos que o
primeiro nome de Brotas de Macaúbas foi Cayam-Bola, provavelmente de origem
indígena ou, conforme estudos mais recentes, por aqui ter sido um quilombo,
onde se refugiaram negros escravos fugidos de fazendas da região.. Além dos
índios, que desapareceram na forma original, mas que deixaram a sua marca nos
traços de nossa gente, os primeiros habitantes eram garimpeiros e pessoas que
trabalhavam na extração e comercialização de diamantes, muitos dos quais vindos
de Portugal.
O
território brotense estaria incluído em terras permitidas à exploração ao
aventureiro Romão Gramacho, cujo registro de sua passagem por aqui também é
inexistente. O certo é que nossas terras, com a permissão dos herdeiros da Casa
da Ponte, foram arrendadas e posteriormente vendidas a um dos primeiros
desbravadores - Carlos Rodrigues Barreto de Araújo. Estabelecido na Fazenda
Santana e, depois, na Fazenda Fundão (hoje Ipupiara) com a esposa e 12 filhos.
As
terras da Fazenda Fundão foram sendo divididas e distribuídas com os sucessivos
casamentos dos filhos do casal Araújo Barreto, surgindo assim diversas
localidades, a exemplo de Olhos D´água, São Domingos, Pega (Nova Santana),
Buriti, Riacho do Carro, Caldeirão (Sodrelândia), Pedra Pintada, Canabrava
(Cristalândia), Gameleira (Ibipetum) dentre outras.
A
cidade surgiu e cresceu em torno da pequena capela devotada a Nossa Senhora que
foi construída pelos herdeiros da família Araújo Barreto. Os irmãos Mathias
(Mathiota) Rodrigues, Felipe Olímpio e Antônio Sodré trouxeram da capital da
Província a imagem da padroeira, Nossa Senhora de Brotas, que permanece até
hoje como protetora de todos os brotenses. A santa e o próspero comércio de
pedras atraíram muitos moradores e o lugarejo cresceu tendo sido elevado à
condição de município em 20 de junho de 1882. Com relação à capela, que foi
reformada várias vezes, valendo registro as de 1901 – concluída em 1910 -,
quando foi totalmente ampliada e retelhada; dos anos 40, quando a igreja ganhou
a primeira torre, construída pelo mestre pedreiro José Viana; Nos anos de 1990
quando teve a nave central ampliada, ganhou novo telhado e pintura e mais
recentemente nos 2000, oportunidade em que foi erguida a segunda torre. Sobre a
história da capela há ainda o registro de que Prudente de Araújo Rodrigues
Barreto conseguiu da família a escritura da gleba de terras que foram doadas a
Nossa Senhora de Brotas. Há documentação nesse sentido no Cartório de Registro
de Imóveis da Comarca. O pequeno povoado de origem em 1847 foi elevado à
condição de freguesia. Em 16 de junho de 1878, por Lei Provincial, o território
ganhou a denominação de Vila Agrícola de Nossa Senhora de Brotas.
Igreja Matriz de Nossa Senhora de Brotas antes
da construção da segunda torre. A primeira foi construída no final dos anos de
1930
Nos
anos 40 – logo após o fim da II Guerra Mundial –, mais precisamente no dia 8 de
setembro de 1947, Brotas celebrou o primeiro centenário da Freguesia
(Paróquia), data que foi marcada pelo pouso dos primeiros aviões na cidade, em
um campo construído em seis dias pelo padre José Pereira Bastos (filho da
terra) nas imediações de onde fica hoje a Fundação João Cristiano.
A
história brotense é muito mais antiga. Relata o heroísmo de seus filhos e
filhas na primeira década do século XX, pegando em armas para lutar pela
hegemonia do município, cuja fundação se deu no tempo do Império.
EXTENSÃO TERRITORIAL
O
município de Brotas de Macaúbas, que era extraordinariamente grande e tinha
sete mil quilômetros quadrados, incluía as terras que hoje formam os municípios
de Morpará (margem do Rio São Francisco), Barra do Mendes e Ipupiara, hoje
possui respeitáveis 2.372,44 km2. A primeira penetração no território aconteceu
na segunda metade do século XVII, por garimpeiros à procura de ouro e pedras
preciosas. Dessas incursões o pequeno povoado foi elevado à condição de
Freguesia, em 1847, com o nome de Nossa Senhora das Brotas de Macaúbas.
EMANCIPAÇÃO
A
Emancipação política do município aconteceu em 16 de julho de 1878, pela
Lei Provincial de nº 1.817, assinada pelo então presidente (governador)
da Província da Bahia e dignitário da Ordem das Rosas, o barão Homem de Melo,
integrante do Conselho de sua Majestade o Imperador Dom Pedro II, responsável
pela lei que elevou a Freguesia de Nossa Senhora de Brotas de Macaúbas à
categoria de Vila, sob a denominação de Villa Agrícola de Nossa Senhora de
Brotas, com seu território desmembrado do município de Macaúbas. A instalação
definitiva do novo município, porém, somente se efetivou em 20 de junho de
1882, com a posse de Antônio Sodré de Araújo Barreto, o primeiro Intendente
(prefeito) Municipal.
Brotas se destaca ainda na luta contra duas ditaduras. A de Getúlio Vargas
impôs ao nosso povo a intervenção de Nestor Rodrigues Coelho. Este governou o
município por quase 15 anos, até a eleição de Osório D´Oliveira Rosa, o
primeiro prefeito eleito democraticamente e em eleições livres. Na ditadura
militar, entre agosto e 17 de setembro de 1971, os brotenses assistiram ao
assassinato do filho da terra José Campos Barreto (Zequinha) e do capitão
Carlos Lamarca, perseguidos como inimigos do regime instalado no Brasil em 31
de março de 1964
CONTRA DITADURAS
Brotas se destaca ainda na luta contra duas ditaduras. A de Getúlio Vargas
impôs ao nosso povo a intervenção de Nestor Rodrigues Coelho. Este governou o
município por quase 15 anos, até a eleição de Osório D´Oliveira Rosa, o
primeiro prefeito eleito democraticamente e em eleições livres. Na ditadura
militar, entre agosto e 17 de setembro de 1971, os brotenses assistiram ao
assassinato do filho da terra José Campos Barreto (Zequinha) e do capitão
Carlos Lamarca, perseguidos como inimigos do regime instalado no Brasil em 31
de março de 1964
NO CENÁRIO NACIONAL
A
sede do município está a 590 quilômetros de Salvador e por diversas vezes figurou no cenário político nacional. No
início do século passado, quando das guerras entre os coronéis Clementino
Pereira de Matos (filho do pioneiro Quincas) e seu sobrinho Horácio de Matos,
da Chapada Velha, que lutaram contra Militão Coelho, de Ipupiara/Barra do
Mendes. A disputa entre os chefes políticos conflagrou a região e envolveu
ainda diversas cidades da Chapada.
Em 1971 – anos de chumbo da ditadura militar – a
população local assistiu a caçada e o assassinato do capitão do Exército e
guerrilheiro Carlos Lamarca que tombou, juntamente com um filho de Brotas, José
Campos Barreto, o Zequinha, no povoado de Pintada (Ipupiara). Naquela época, o
município viveu dias de muita tensão e terror, especialmente na comunidade de
Buriti Cristalino, onde as forças do Exército mataram também o professor Santa
Bárbara e Otoniel Barreto, baleando Olderico Barreto, os dois últimos irmãos de
Zequinha, além de torturarem selvagemente o pai deles, José Campos Barreto.
Hoje
o dia 17 de setembro é reverenciado e muitas homenagens são prestadas aos
guerrilheiros que foram assassinados durante uma operação comandada, na
ocasião, pelo major Nilton Cerqueira, do DOI-CODI. Antes, em agosto, a
comunidade de Buriti Cristalino foi tomada de assalto pelas tropas do
delegado-algoz Sérgio Paranhos Fleury, do DOPS de São Paulo.
A história do Cangaço também tem um capítulo decisivo nas
terras brotenses. Aqui, Lampião, respeitando pacto com o coronel Horácio de
Matos, jamais pisou seus pés. Mas após a morte do líder cangaceiro, em Angico,
Sergipe, para cá se escondeu um de seus braços direitos, o temido cangaceiro
Corisco e sua mulher Dadá. Ela conseguiu escapar viva da perseguição policial,
o mesmo não acontecendo com o marido. O “Diabo Loiro” Corisco foi morto em
terras brotenses no dia 5 de maio de 1940.
MILAGRE DA VAQUINHA
Há notícias sobre a existência de Brotas de Macaúbas desde o final do
século XVII. Mas a povoação em torno da igreja e do cemitério, construído do
lado direito, ganhou força com o milagre da vaquinha, por volta de 1792.
Aqui recorremos a uma lenda, pois não existem registros comprobatórios.
Conta-se que a filha de um fazendeiro (provavelmente um dos menbros da
pioneira família Araújo Barreto) ficou muito triste com o sumiço de uma
bezerrinha, presente do pai, levando a mãe a fazer uma promessa de que mandaria
erguer uma capela para louvar Nossa Senhora caso o animal fosse encontrado.
Meses se passaram e a menina definhava, até que caçadores e vaqueiros
encontraram o animal perdido, já uma vaquinha e com um bezerrinho, no local
chamado Boqueirão, de água pura e boa e da qual não se sabia a existência até
então. A água cristalina - que abasteceu a população por muitos anos - e o
capim farto no local salvaram a vida da bezerrinha perdida. Além da capela, o
pai da menina também doou as terras ao derredor que foram sendo povoadas até os
dias de hoje. O Boqueirão foi o marco zero da cidade, mas hoje definha quase
morto por anos de abandono e descaso.
A partir do milagre da vaquinha e da descoberta de importante fonte de
água, nascia a florescente Vila Agrícola de Nossa Senhora de Brotas, que mais
tarde foi elevada à condição de município, incluindo terras agora pertencentes
a Ipupiara, Morpará, Barra do Mendes, além da vila de Corrente, hoje Bom
Sossego, em Oliveira dos Brejinhos.
AGRICULTURA FAMILIAR
A economia de Brotas, outrora próspera pela extração de carbonatos,
diamantes e ouro, assim como pela criação de gado, hoje é baseada na
agricultura familiar, principalmente com a produção de frutas, feijão, milho,
além de pecuária e criação de caprinos. Há de se destacar as associações e
pequenas cooperativas produtivas de hoje em diversas comunidades e o cultivo da
cana de açúcar e produção de aguardente e rapadura, intruduzidos desde os
primórdios, pelos colonizadores.
Brotas de Macaúbas também é um dos maiores produtores de cristais de
quartzo. O quartzo com fios dourados - rutilo - pode ser a grande esperança
para a nossa economia, mas os garimpos ainda asseguram poucos empregos, os
lucros vão para uma minoria e não há recolhimento de impostos.
O
município de Brotas de Macaúbas foi no passado o rei do fumo em corda – o ouro
negro - que trouxe riqueza à região, destacando-se as comunidades de Lagoa de
Dentro e Gameleira, hoje Ibipetum (esta hoje pertencente a Ipupiara), além de
diversas outras localidades. O cultivo do fumo foi de grande importância para o
desenvolvimento municipal, mas não houve uma política de comercialização que
garantisse o lucro dos agricultores e comerciantes. A descoberta de novas
plantas e de novas áreas de cultivo, aliada à dificuldade do escoamento de nossa
produção, além da falta de iniciativa dos brotenses em formarem, por exemplo,
uma cooperativa que negociasse o produto em quantidade – já que o fumo de
Brotas tinha nome e qualidade no mercado – fez com que esse negócio entrasse em
decadência e hoje é apenas uma lembrança.
Lideranças
políticas brotenses na época do conflito entre Horácio e Militão
OS
GOVERNANTES
Brotas de Macaúbas viu a política dos coronéis e dos
intendentes escolhidos de arma em punho; a ditadura Getúlio Vargas impor
interventores, nos anos 30 e 40, até a eleição de Osório (Juca) D´Oliveira
Rosa, o primeiro prefeito eleito pelo voto direto do povo, em 1946. A partir de
então, foram prefeitos eleitos pelo povo: Osvaldo Rosa (dois mandatos),
Gaudêncio Oliveira (duas vezes), Edson Ribeiro (três vezes), Dr. Walter Bastos
de Matos, José Martins do Espírito Santo, Antônio Kléber Ribeiro (três vezes),
Aurelice Barreto Farias, Arilton Oliveira, Litercílio
Nunes de Oliveira Júnior, Cristina Lima Sodré e
novamente Litercílio Nunes, atual prefeito, empossado que foi no dia 1° de janeiro de 2017.
MULHERES
NA POLÍTICA
As mulheres brasileiras
ganharam o direito de votar em 1933, mas as brotenses somente puderam exercê-lo
plenamente após a ditadura de Getúlio Vargas, votando nos deputados da
Constituinte de 1945 e, em janeiro de 1947, ajudando a eleger o governador Otávio
Mangabeira.
Como
diz a professora Solange Oliveira, em Projeto
apresentado no Trabalho de Conclusão de Curso da Especialização
Interdisciplinar em Estudos Sociais e Humanidades, intitulado “Mulheres e
política: percepções e atuação
política da mulher brotense”, “a
busca pela participação da mulher na política brasileira passou por diversas
fases ao longo do tempo, sendo, desde o início, uma busca pelo alcance da
condição de sujeito, não apenas político, mas também social e econômico.
Estudos que analisam a participação da mulher na política enfatizam as
diferentes formas de exclusão pelas quais a mulher vem passando ao longo do
tempo, sendo que, alguns destes, destacam que tal situação retrata uma
realidade socialmente construída, podendo como tal, ser alterado, o que
inclusive já vem ocorrendo, independente da velocidade na qual se manifesta”.
O
capital político feminino em Brotas de Macaúbas é dos mais significativos e muitas são as mulheres de destaque na política
local. Das pioneiras – Dona Mariazinha Rosa de Oliveira, esposa do ex-prefeito
Gaudêncio Oliveira e Dona Alzira (Zizinha) Ribeiro do Espírito Santo -, no
final dos anos 50, primeiras vereadoras eleitas, as brotenses sempre mostram a
que vieram. Na Câmara Municipal, outras mulheres foram eleitas – algumas com
expressivas votações -, a exemplo de Marli Barbosa Brandão, Cleusa Rodrigues,
Libânia (dona Albana) Ribeiro de Alcântara, Lúcia Bezerra, Creuza Lima,
Ildonete Custódio, Generosa Oliveira, Nila Pereira de Oliveira, Marluce
Carvalho Porto, Clarice Figueiredo Matos, Flávia Ferro e Cléia Alcântara Sodré.
As mulheres brotenses também chegaram ao mais alto posto, sendo escolhidas
prefeitas – a exemplo de Aurelice (Licinha) Barreto Farias e Cristina Sodré
Lima.
A grande riqueza cultural marca a identidade do povo brotense
A
religiosidade do povo brotense é muito forte, nascida sob as bênçãos da
padroeira, Nossa Senhora de Brotas. Mas um evento se destaca nesse contexto:
trazidos pelos primeiros colonizadores, em sua maioria com origem no
arquipélago português de Açores, a Festa do Divino Espírito Santo é um dos
maiores legados culturais e religiosos da região.
Os
festejos ao Divino duram 50 dias, desde a Páscoa, quando começam a ser pedidas
as Esmolas até o Dia de Pentecostes, cuja data é fixada a partir do calendário
judaico que também determina outras datas como o Carnaval e a Semana Santa. O
tropel dos cavalos desperta a multidão e aumenta a algazarra.
A
população segue devotamente o Imperador e o Capitão que levam a Bandeira do
Divino (vermelha com a pomba branca estampada) de casa em casa em todas as
comunidades da Freguesia. Tanto Imperado quanto Capitão são escolhidos por
sorteio na Igreja Matriz ao final de cada festejo. Além das Esmolas, eles
organizam a Cavalaria – quando centenas de cavaleiros chegam à cidade na
véspera de Pentecostes trazendo a bandeira e toda a alegria dos festejos
divino. O povo sai, encantado, às ruas para recepcionar uma tradição que se
repete desde os primórdios de nossa cidade.
Leilões.
Missas, novenas e procissão completam uma acontecimento cuja devoção está na
alma brotense.
Ladainha das Esmolas
A
Ladainha das Esmolas é cantada com muita fé e entusiasmo pelos devotos durante
a Festa do Divino. Faz parte da visita da Bandeira de casa em casa e que
arrasta multidões todos os anos pelas ruas da cidade e em todos os recantos por
onde a caravana do imperador passa. Não se sabe o autor ou autora de tais
versos que o povo repete todos os anos como um mantra sagrado e muito especial:
É
chegada em vossa casa
Uma
formosa bandeira (bis)
E
nela vem retratada
Uma
pomba verdadeira (bis)
Divino
Espírito Santo
Em
vossa morada entrou (bis)
Vem
correndo a freguesia
Visitando
os morador (bis)
Essa
pomba que aqui vem
É de
Deus muito louvada (bis)
São
as mesmas três pessoas
Da
Santíssima Trindade (bis)
Vem
pedindo a sua esmola
Que
muito carece dela (bis)
Para
serem festejadas
Dentro
de sua capela (bis)
Divino
Espírito Santo
Dono
do Sol que nos cobre (bis)
Ele
é dono do tesouro
Pede
esmola como pobre (bis)
Ele
pede é por pedir
Mas
não é por carecer (bis)
Pede
para experimentar
Quem
seu devoto quer ser (bis)
Divino
Espírito Santo
Divino
consolador (bis)
Consolai
as nossas almas
Quando
desse mundo for (bis)
Quem
se benze com a bandeira
Desse
Divino Senhor (bis)
Benze
Deus na sua graça
Dentro
do seu resplendor (bis)
Quem
dá esmola a esse santo
Não
repara o que vai dar (bis)
Seja
dez reais ou vinte
Fica
mil em seu lugar (bis)
Deus
lhe pague a esmola
Deus
lhe dê muita saúde (bis)
A
esmola é caridade
A
caridade é virtude (bis)
Deus
lhe pague a esmola
Se
vos derem com grandeza (bis)
Deus
permita que por ela
No
reino do céus se veja (bis)
Festa do Divino, maior manifestação de fé em
Brotas de Macaúbas
PONTOS TURÍSTICOS
Além da bela Igreja Matriz, Brotas de Macaúbas possui alguns marcos dignos de registro, a exemplo da Pedra
do Urubu onde, diz a lenda, estaria a marca do pé do
coronel Horácio de Matos feita durante as lutas em defesa pela soberania do
município.
O Açude Sereno, construído no final do século XIX, início do século XX – época de grande
seca e de quando a população viveu a “grande fome”. Fica na entrada da cidade,
tendo ao fundo o Morro da Colônia, outra referência que remete a nossa lembrança, assim
como o hoje depredado e esquecido Boqueirão.
Há também belos exemplos da arquitetura colonial, especialmente em algumas
poucas casas da Praça Dr. João Borges que resistiram ao tempo e à sanha
consumista dos homens. Com relação a isso, registramos a destruição do Sobrado
do Major Quintino Arcanjo Ribeiro, local onde, nos anos 60, funcionou o Colégio
Cenecista. A Igreja de Nossa Senhora de Brotas – cuja primeira reforma foi
concluida em 1910 (sem as torres) é outro destaque, valendo o citar a nova
torre construída no início deste século XXI, nos mesmos moldes da primeira.
Contruída pelo Major Quintino Arcanjo e sua mulher Tertuliana Novais, a Capelinha, no alto da Colina do Boqueirão, é outra referência
brotense.
Na memória coletiva do nosso povo, três marcos culturais, igualmente
destruídos pelo descaso: As três filarmônicas – 7 de Setembro, 15 de Novembro e Lira
Brotense – desapareceram. O mesmo
aconteceu com a Lapinha de Joana Messias - com a morte da proprietária o presépio não foi
conservado (ela não tinha filhos) e desfez-se uma tradição que encantou
gerações inteiras. O outro exemplo é o Reisado – sendo o mais conhecido e popular o Reis de Lalu. Este
perdeu-se no tempo, sendo até hoje lembrado pelo povo.
Fora da área urbana, outras maravilhas da natureza se
destacom: o Lajedo, o Riachão, grutas do Buriti Cristalino, a Cachoeira de Três Reses, Santana, Olho D´água, Outeiro do Araci, Água Quente, Santa Maria e Santa Marina que
podem se transformar em lugares para ótimos passeios.
Petas,
rupiado e cortado de banana verde estão no cardápio
CULINÁRIA
ESPECIAL
Dos índios, ainda guardamos a tapioca e o beiju, além de alguns pratos
típicos como o cortado de banana verde. A buchada, assim como a paçoca de carne
seca (de pilão) são muito apreciadas, juntamente com a galinha capira. Outro
destaque é o tradicioRpiado, caldo com carne, ovo e farinha, muito apreciado
por todos.
Nascido em Chapada Velha no dia 18 de março de 1882
Horácio de Queirós Matos talvez seja o primeiro grande heroi do povo brotense.
Em defesa da hegemonia política de Brotas, Horácio enfrentou, com coragem e
destemor, as forças contrárias, em especial as do coronel Militão Coelho que,
no começo do século XX, desejavam levar a sede do município para Barra do
Mendes.
Horácio de Matos chegou ao comando da família das mãos de seu tio também
coronel, Clementino Matos. A família mantinha longa amizade com o coronel
Militão Rodrigues, de Barra do Mendes, que acabou desaguando em inimizade,
intrigas e lutas. Com filhos todos crianças, Clementino escolheu o sobrinho que
mais confiava para essa missão. Em ritual familiar, Horácio recebe o comando
numa reunião secreta onde fez o juramento para cumprir o Código dos Matos:
- Não humilhar
ninguém, mas nunca se deixar-se humilhar, por quem quer que seja;
- Não roubar jamais,
sejam quais forem as circunstâncias, nem permitir que alguém roube e fique
impune;
- Ser leal com os parentes
e amigos, dando-lhes permanente proteção;
- Ser leal com os
inimigos, respeitando-os em tempos de paz e enfrentando-os em tempos de
guerra;
- Não provocar, nem
agredir, mas - caso ofendido -, colocar a honra acima de tudo e reagir,
pois não adianta viver sem a dignidade.
Entre as muitas lutas, destaca-se a de 1916 quando Militão Coelho arma-se e
com muitos homens invade a sede do município. Foi quando o major Vena, como era
conhecido o tabelião de notas Joviniano dos Santos Rosa. Ligado politicamente ao
Coronel Rosendo de Amorim, outro líder politico importante e compadre de
Horácio, este foi chamado. Vendo que somente pela força era possível tratar com
Miltão, Horácio invade Brotas para resgatar o major Vena, que acabou levando um
tiro que o atingiu na boca, e libertar a cidade.
É dessa época de pelo menos duas grandes batalhas – no Pega (hoje Nova
Santana) e Buriti do Alho, onde os homens de Horácio cavaram grandes buracos,
surpreendendo os inimigos, e a outra no Fundão (hoje Ipupiara), onde Militão tinha
muitos seguidores. Com a vitória, Horácio assume a chefia política do
município, feito Intendente, enquanto o arquiinimigo Militão volta para Barra
do Mendes, então distrito de Brotas, onde se fortifica e prepara novas
investidas.
Horácio ainda conandou a política da Vhapada Diamantina como chefe político
de Lençóis e liderou o Batalhão Patriótico Lavras Diamantinas que perseguiu a
Coluna Prestes até a Bolívia.
Na noite de 15 de maio de 1938, durante um passeio com a filha de seis
anos, Horacina, é assassinado com três tiros pelas costas pelo agente policial
Vicente Dias dos Santos.
Nascido em 5 de maio de 1926, o
professor, geógrafo e jornalista Milton é com certeza o filho mais ilustre de
Brotas de Macaúbas. Seu nome batiza hoje a Biblioteca Pública Municipal,
localizada no antigo prédio da Prefeitura, na entrada da cidade. Livre pensador
brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a
maior coragem, nos dias atuais, é pensar; coragem que sempre teve. Milton
Santos nasceu em Brotas na casa de número 377 da Praça Dr. João Borges (Matriz),
onde seus pais foram professores por algum tempo É doutor honoris causa em várias
universidades em diversos países países e ganhador do prêmio Vautrin Lud, em
1994 (o Nobel da geografia). Apesar de aqui não ter crescido, nunca se esquivou
de referir-se a Brotas de Macaúbas quando chamado a dizer onde nascera.
. Em seu legado estão coragem e
originalidade, que podem ser observados em obras como O Povoamento da Bahia
(1948), O Futuro da Geografia (53), Zona do Cacau (55) - entre muitos outros. Foi
preso em 1964 e exilado. Outras de suas magistrais obras são: Por Uma Outra
Globalização e Território e Sociedade no Século XXI.
“Fica
lá onde o vento faz a curva”. Era assim que muita gente dizia ao referir-se à
distância de Brotas de Macaúbas - para a capital, Salvador, são 590
quilômetros. O certo é que essa expressão ganhou vida e significado novos com a
implantação no município do Primeiro Parque Eólico da Bahia. A força do vento
fez com que a Desenvix Energias Renováveis S.A., empresa controlada pelo Grupo
Engevix, pela norueguesa SN Power e pela FUNCEF, inaugurasse oficialmente no
dia 20 de setembro de 2012, as Centrais Geradoras Eólicas em Sumidouro, região
do Cocal.
O Parque Eólico de Brotas de Macaúbas é o
maior empreendimento detido integralmente pela Desenvix, com investimentos de
R$ 425 milhões. O complexo tem 95 MW de capacidade instalada e um total de 57
turbinas eólicas em operação. A geografia privilegiada da Bahia, a presença de
indústrias construtoras de aero geradores no Estado e os estímulos ao
investimento privado, oferecidos pelo Governo da Bahia, foram determinantes
para o sucesso do empreendimento, como justificam os empresários.
As torres têm 80 metros de altura,
equivalente a um prédio de 20 andares e podem ser vistas a uma distância de 90
quilômetros por quem passa pela BR-242, na altura de Brotas de Macaúbas.
Brotas de Macaúbas tem agora uma nova
chance de desenvolvimento econômico e que os empregos gerados por essa
indústria limpa chegue de fato aos brotenses. Que a força do nosso vento
energize o progresso do nosso povo!
DADOS GEOGRÁFICOS
- Altitude:
- 900 m (média)
- 1151 m (máxima)
- Bacia hidrográfica:
São Francisco
- Região: Chapada
Diamantina
- Rios principais:
riacho das Telhas/Brotas, córrego Pau Louro
- Ocorrências
minerais: amianto, barita, cobre, cristal de rocha, diamante, ferro,
manganês, ouro, quartzito, mármore...
Clima
- Tipo climático:
semi-árido e seco a sub-úmido
- Temperatura média
anual
- min.: 16, 1°C
- média: 20,6°C
- máx.:
25,4°C
- Período chuvoso:
Novembro a Março
- Pluviosidade anual:
- min.: 309 mm
- média: 723 mm
- máx.: 1593
Outras informações
- População em 2011):
10.718 habitantes, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística)
- DDD: (77)
- CEP: 47560-000
*
Com esta postagem sobre a data da emancipação política de Brotas de
Macaúbas, reassumo meu blog www.brotasaqui.blogspot.com.br e voltarei a
neste espaço publicar notícias, artigos e materiais diversos sobre o
nosso município, a Chapada Diamantina, a Bahia e o Brasil. Espero que
gostem e acompanhem!